quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Programa com coordenador do grupo LER vence mostra “AS CIÊNCIAS E A PANDEMIA DE COVID-19” da SBPC

O programa intitulado Para além da sala de aula, realizado pela Revista Pesquisa FAPESP, foi escolhido o melhor vídeo na categoria média metragem na mostra “AS CIÊNCIAS E A PANDEMIA DE COVID-19” da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ao todo, foram inscritos 58 vídeos de todo o país na temática. O programa, baseado em reportagem da Revista, promoveu o debate sobre o ensino remoto emergencial e a EaD tradicional e destacou análises sobre o tema realizadas pelo professor e pesquisador Eduardo Junqueira, da UFC, coordenador do Grupo LER, e outros especialistas e docentes. Seguem os detalhes da premiação publicados na revista da SBPC (link):

Para além da sala de aula

O fechamento de escolas e universidades durante a pandemia de Covid-19 aprofundou desigualdades históricas do ensino brasileiro e reacendeu o debate sobre educação a distância. Para entender melhor a diferença entre um curso a distância tradicional e o ensino remoto praticado emergencialmente, entrevistamos um coordenador de cursos de EaD, um especialista em políticas públicas de educação e duas professoras.


Ficha técnica:

Produção e direção: Renata Druck

Edição: Bruno Horowicz Rezende

Pesquisa: Rafael Ghertman

Legendagem: Pedro Vainer

Realização: Revista Pesquisa Fapesp

Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ixIMTDqqSmw&list=PLVigrCJ_g6LfZNi2dyzQAv3_ZReXMZ1RN&index=58

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Novo livro gratuito sobre tecnologias digitais e escolas na pandemia

Acaba de ser lançado novo livro gratuito sobre tecnologias digitais e escolas na pandemia (link para download gratuito) editado pela professora e pesquisadora Ana Elisa Ribeiro e pela doutoranda Pollyanna de Mattos Moura Vecchio do CEFET-MG. Intitulado Tecnologias digitais e escola: reflexões no projeto Aula Aberta durante a pandemia, a obra integra a série Linguagens e Tecnologias da editora Parábola e é um desdobramento de lives conduzidas por Ribeiro no Instagram (@anadigital) com autores dos capítulos durante os primeiros meses da pandemia do COVID-19 e integra o projeto de extensão Aula Aberta do centro tecnológico. O coordenador do grupo LER, convidado a participar de uma das lives, contribuiu com o capítulo intitulado A EaD, os desafios da educação híbrida e o futuro da educação. Também contribuíram para obra pesquisadoras renomadas da UFMG, como Carla Coscarelli e Vera Lúcia Menezes Paiva, da UNICAMP, Roxane Rojo, e de outras importantes universidades de diversos estados do país.

Na Apresentação da obra, as editoras destacam que: "Cada autor(a) escreveu segundo a linguagem que quis, de acordo com o que expôs em nossa live. O volume foi, então, organizado seguindo uma trilha que apresenta, primeiramente, textos mais teóricos ou reflexivos sobre educação, tecnologias e pandemia e, em seguida, dispusemos os capítulos que propõem ou explicitam práticas que integram tecnologias digitais e escola. Assim, mais detalhadamente, na primeira parte estão os capítulos que tentam entender a situação peculiar da educação brasileira no contexto da pandemia, levando o leitor à reflexão sobre teorias que englobam questões relativas ao uso das tecnologias na educação, passando também pela discussão sobre políticas públicas que deveriam subsidiar a democratização do acesso às tecnologias digitais e em rede. Na segunda parte, o(a) leitor(a) encontrará estudos que, além de teorizarem sobre o assunto, propõem atividades bastante específicas para serem desenvolvidas em ambiente presencial ou remoto e que envolvem o uso de ferramentas digitais".

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Nova revisão sobre ensino e aprendizagem online e m-learning em universidades espanholas

Nova edição do periódico Computers & Education (link) traz diversos artigos de interesse nas temáticas de realidade virtual, mídias sociais, avaliação formativa, testes online, dentre outras, com destaque para os trabalhos: Analysis of the determining factors of good teaching practices of mobile learning at the Spanish University. An explanatory model, de autoria de Inmaculada Aznar-Díaz, Francisco-Javier Hinojo-Lucena, María-Pilar Cáceres-Reche e José-María Romero-Rodríguez, e A systematic review of research on online teaching and learning from 2009 to 2018, por Florence Martin, Ting Sun e Carl D. Westine.

A revisão sistemática sobre ensino e aprendizagem online indica diversas lacunas no conhecimento produzido sobre a temática até aqui e traz o seguinte resumo, em tradução livre: "Esta revisão sistemática aborda essa lacuna examinando 619 artigos de pesquisa sobre aprendizagem online publicados em doze periódicos na última década. Esses estudos foram examinados quanto a tendências e padrões de publicação, temas de pesquisa, métodos de pesquisa e ambientes de pesquisa e comparados com os temas de pesquisa das décadas anteriores. Embora tenha havido uma ligeira diminuição no número de estudos sobre aprendizagem online em 2015 e 2016, continuou a aumentar em 2017 e 2018. A maioria dos estudos eram de natureza quantitativa e foram examinados no ensino superior. A pesquisa de aprendizagem online foi categorizada em doze temas e uma estrutura para alunos, cursos e instrutores e níveis organizacionais foi desenvolvida. As características do aluno online e o envolvimento online foram examinados em um grande número de estudos e eram consistentes com três das revisões sistemáticas anteriores. No entanto, ainda há necessidade de mais pesquisas sobre tópicos de nível organizacional, como liderança, política e gestão e acesso, cultura, equidade, inclusão e ética, e também sobre as características do instrutor online".

O resumo do trabalho sobre boas práticas com a aprendizagem móvel (m-learning) nas universidades espanholas -- provavelmente sobre pesquisa conduzida antes da pandemia do COVID-19 --  destaca, em tradução livre: "Os objetivos deste trabalho foram, por um lado, determinar o grau de implementação do m-learning e boas práticas de ensino nas universidades espanholas; por outro lado, conhecer as causas que levam os professores universitários a não integrarem dispositivos móveis e determinar os fatores sociodemográficos que influenciam o desenvolvimento de boas práticas pedagógicas de m-learning. Em relação ao método de pesquisa, utilizou-se uma abordagem quantitativa voltada para a aplicação de um questionário online. Participaram do estudo 1544 professores universitários vinculados às Faculdades de Educação de toda a Espanha, com idades entre 20 e 77 anos (M = 45,29; DP = 10,45). Os resultados obtidos revelaram que: 1) Mais de 70% dos professores universitários espanhóis utilizam dispositivos móveis na sala de aula; 2) Ignoram-se os principais motivos pelos quais os dispositivos móveis não são utilizados em sala de aula, a crença de que são uma distração, a resistência à mudança e a percepção de inutilidade; 3) Apenas 39,56% realizaram boas práticas de ensino; 4) Os principais e possíveis fatores influentes nas boas práticas de ensino de m-learning foram categoria profissional, linha de pesquisa em tecnologia educacional, outras inovações pedagógicas, acredita na adequação dos dispositivos móveis e na expansão do m-learning nos próximos anos. Por fim, as implicações práticas deste estudo são discutidas, destacando a riqueza de dados coletados nesta pesquisa pioneira sobre a avaliação de boas práticas de ensino de m-learning".



segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Relatório da Coursera traz indicadores de qualidade para a educação on-line

A plataforma educacional comercial Coursera acaba de publicar um relatório sobre referências de qualidade para a educação on-line baseadas na análise de dados das centenas de cursos e milhares de estudantes de todo o mundo atendidos pelo serviço on-line os últimos anos (link). A qualidade, no caso, é definida pela Coursera em termos de engajamento dos estudantes (percentual de conclusão dos cursos), satisfação (boas avaliações discentes), desenvolvimento de habilidades (notas nos testes) e impacto na carreira (conforme relatado pelos estudantes em enquetes da plataforma). 

As recomendações trazidas no documento não surpreendem profissionais engajados no aprendizado online: mantenha os vídeos curtos (máximo de 10 minutos cada), mantenha os cursos curtos (4 semanas de duração no máximo), forneça atividades e práticas envolventes e significativas para os estudantes e seus interesses e necessidades, e ajude os estudantes a aplicar suas novas habilidades, o que aprofunda o aprendizado deles. 

Sobre o ensino: "Projetos práticos e atividades de programação podem resultar em taxas 30% mais altas de desenvolvimento de habilidades, além de ganhos em satisfação e resultados na carreira", afirma o documento. Sobre a aprendizagem: "Os alunos que participam de fóruns de discussão desde o início do curso possuem 25% mais chances de concluir o curso. Envolvendo-se com um comunidade ajuda os alunos a alcançar seus objetivos". 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Creative Commons Summit 2020 será online com diversas sessões sobre educação aberta/livre

O Creative Commons Summit 2020 (evento gratuito que reúne pesquisadores e praticantes da cultura livre de todo o mundo) será realizado totalmente online e vai ocorrer entre 19 e 23 de outubro, com mais de 180 atividades entre mesas de debate, hackathons e ações culturais (link). Destaque para os conferencistas convidados debatendo sobre "cultura de paz" e "democracia à venda" e para as diversas sessões sobre educação aberta/livre.  

No dia 20/10, destaque para  "How to use Creative Commons, Wikipedia and Archive.org as an educational tool", de  Rafael Conde Melguizo e "Wikipedia belongs to education? A pedagogical model to sustain it!", de Teresa Cardoso e Filomena Pestana. 

Já no dia 21/10, "How do we go beyond open access, to encourage reuse and collaboration in research?", de Emmy Tsang, e "Influence of digital open learning practices on higher distance education", de Daniel Dominguez e Claudia Gordo, no dia 22/10, dentre vários outros trabalhos do eixo temático.


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Novo livro Visualização de Dados em Sociedade

Pesquisadores holandeses acabam de lançar um livro editado (link) que apresenta diversos aspectos da área de visualização de dados, que se aprofunda e abre diversas novas frentes de estudo. A obra editada por Martin Engebretsen e Helen Kennedy traz 26 capítulos que discutem os letramentos relacionados aos dados, o papel da visualização de dados na mídia e sua relação com as desigualdades sociais no planeta. 

Destaque para a seção III sobre dados, aprendizagem e letramentos e que traz um capítulo sobre esses letramentos desenvolvidos a partir de uma perspectivas dos estudos feministas e um capítulo que questiona se se trata de fato de letramentos de dados no contexto de sociedades tão desiguais. 

Outros projetos relacionados à temática e campo de estudos são o AI4D (link), a The fr Network (link) e o Research ICT Africa (link). Um livro de referência é o Data Feminism (link).






sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Novo livro sobre o estudo das plataformas online

Acaba de ser publicado o livro Pesquisando plataformas online: conceitos e métodos do professor e pesquisador Carlos d'Andréa, da UFMG (link para acesso e download gratuito). Trata-se da primeira publicação do gênero no país sobre a emergente área de estudos surgida em 2010 e integra a Coleção Cibercultura da editora da UFBA. Escrita em linguagem bastante acessível, a obra traz tópicos sobre conceitos e elementos estruturais das plataformas (dataficação, algoritmos, modelos de negócio, governança e affordances, dentre outras) e um seção final sobre os métodos para se pesquisar as plataformas. 


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Novo editorial sobre desafios e o futuro da inteligência artificial na educação

Em extenso editorial recente, intitulado Historical threads, missing links, and future directions in AI in education, os editores Ben Williamson e Rebecca Eynon, do periódico Learning, Media and Technology, apresentam um panorama crítico da genealogia histórica e da presença atual, os problemas e o futuro da inteligência artificial no campo da educação entre o louvor ao seu caráter inovador e revolucionário e o temor de seus desafios éticos e sua operação pouco transparente e consequências inescrutáveis (link). 

O texto analisa a pesquisa sobre IA na educação, o uso da IA em aplicativos educacionais comerciais, a infraestrutura de IA, as política e a governança de IA e o que os autores chamam de "missing links", ou seja, os "furos" ou problemas na IA na educação no contexto da dataficação e da vigilância em rede.  


A partir de artigos publicados na temática das últimas décadas, os editores apontam para a "natureza contestada da IA, com uma história complexa de metodologias e disciplinas, e várias afirmações de como a IA permitirá que os cientistas da aprendizagem desenvolvam entendimentos ‘transformativos’ ou ‘revolucionários’ da cognição, aprendizagem e inteligência humanas". E sugerem foco em três áreas para futuras pesquisas sobre o tema: "etnografias de IA em uso, maior aproximação com o campo da filosofia da educação, e interações mais significativas com outras comunidades acadêmicas que trabalham na IA em educação".



quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Novo artigo sobre estudos de plataformas e a educação

A revista Linhas Críticas, da Universidade de Brasília (UnB), acaba de publicar artigo intitulado Estudos de plataforma: dimensões e problemas do fenômeno no campo da educação, de autoria de Eduardo S. Junqueira, coordenador do Grupo LER/CNPq e professor da UFC (link). O material resulta de temporada de estudos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em que realizou-se intercâmbio de pesquisa com o professor e pesquisador Carlos D'Andréa, coordenador do grupo R-EST - Estudos redes sociotécnicas, e com pesquisadores e alunos do Núcleo de Pesquisa em Conexões Intermidiáticas (NucCon) da UFMG.

O resumo do trabalho publicado: O estudo exploratório teve o objetivo de analisar quatro plataformas dotadas de mecanismos automatizados de coleta de dados sobre o comportamento dos usuários e utilizadas crescentemente nas atividades didático-pedagógicas de escolas e universidades. Os dados coletados por essas plataformas abrangem o desempenho dos estudantes em atividades de estudos e a performance em testes. Para alegados fins de aprimoramento do ensino, a atuação docente e a gestão escolar são referenciados por padrões de eficiência e qualidade pré-estabelecidos. A análise demonstrou que essas plataformas operam inseridas nos fenômenos da dataficação, comodificação e do capitalismo de vigilância. Seu uso se amplia em detrimento de uma melhor compreensão dos seus impactos nas práticas educacionais, em particular a aprendizagem e a natureza da educação pública.


terça-feira, 4 de agosto de 2020

Programa da revista Pesquisa FAPESP discute EaD com participação do Grupo LER

O Coordenador do Grupo LER/CNPq e professor da UFC, Eduardo Junqueira, participou de programa recente da revista Pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que discutiu características e desafios da EaD no contexto da pandemia provocada pelo Covid-19 (link para o vídeo do programa). Participaram também do programa a professora da USP, Regina Baldini, o gerente de políticas educacionais da Todos pela Educação, Gabriel Corrêa, e a professora da FAAP, Moira Toledo. O programa se originou de reportagem publicada anteriormente sobre a temática na revista (link).


quarta-feira, 22 de julho de 2020

Atualização do conceito de Networked Learning

Há décadas um grupo de pesquisadores europeus, dentre outros, reunidos em um consórcio científico (link) trabalha na construção de uma área de saber em torno do conceito de networked learning (aprendizagem conectada em rede) através de colaboração científica, conferências e publicações. O conceito possui fundamentação teórica das áreas do sócio-construtivismo, pedagogia crítica, teorias pós-humanista e feminista pós-estruturalista,  CSCL e comunicação mediada por computador, dentre outras. Agora, esse grupo está desenvolvendo ações para atualizar o conceito.

No momento, circula um artigo (link), publicado na Postdigital Science and Education, que revê a história da construção desse conceito e propõe a seguinte atualização: "A aprendizagem em rede envolve processos de investigação colaborativa, cooperativa e coletiva, criação de conhecimento e ação com conhecimento, sustentada por relações de confiança, motivadas por um senso de desafio compartilhado e possibilitadas por tecnologias de convívio. O aprendizado em rede promove conexões: entre pessoas, entre locais de aprendizado e ação, entre idéias, recursos e soluções, através do tempo, espaço e mídia".

A partir do mês de setembro será aberto um canal de interação on-line para que pesquisadores de área contribuam para esse processo de atualização e ampliação da área de saber.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Relatório inédito analisa como o público compreende práticas de dataficação em redes digitais

A dataficação opera no novo contexto de codificação das relações humanas nas redes digitais e se refere ao processo de quantificar todos os aspectos das interações socais nas redes e transformá-los em código através de processo automatizados e nem sempre transparentes para os usuários com fins mercadológicos e políticos. O mais detalhado relatório sobre pesquisas e seus resultados na área da dataficação, intitulado "Public understanding and perceptions of data practices: a review of existing research", acaba de ser publicado e está disponível para consulta neste link e integra os conteúdos do website Living with Data. A publicação é dividida em três seções: uma síntese dos principais resultados de pesquisas científica e outros artigos diversos na temática indicando como o público compreende a dataficação (incluindo relatórios de organizações diversas, etc.); um relatório completo e detalhado contendo os resultados das análises de todo o material publicado na temática entre 2015 e 2020, e um compêndio com a lista de todas a publicações identificadas na pesquisa. 

Os resultados do estudo foram agrupados em 10 temas sobre as principais questões que envolvem a dataficação, dentre eles os níveis de conhecimento e de preocupação das pessoas sobre a dataficação, os fatores emocionais e de confiabilidade envolvidos, as percepções as pessoas sobre mudanças necessárias nas práticas de dataficação. De modo geral, os pesquisadores da University of Sheffield apresentaram a seguinte conclusão geral, em tradução livre:
"I - A questão dos dados é uma questão humana. Isto significa que a governança relacionada a dados
e a tomada de decisões deve ser centrada no ser humano. Ela precisa começar com as experiências e percepções das pessoas afetados pelas práticas de dados.
II - O contexto é importante. Quem reúne dados, o que e quais dados são coletados, para que
propósito e com que efeitos, influenciam atitudes das pessoas.
III - As desigualdades são importantes. As desigualdades sociais influenciam os níveis de conhecimento e compreensão, preocupações, grau de confiança e sentimentos sobre práticas de dados."

terça-feira, 30 de junho de 2020

Artigo analisa o uso de inteligência artificial em fóruns assíncronos

Artigo do tipo relato de campo publicado por pesquisadores da North Texas University, em conferência da EDEN, European Distante and E-Learning Network, promove debate e reflexões sobre o polêmico e muito recente uso de inteligência artificial em atividades de aprendizagem online, O estudo se baseou em IA integrada em uma disciplina de biologia do primeiro semestre da universidade (link para o artigo). Importante salientar que esse uso não pode levar à substituição de professores e nem à precarização das atividades docentes.

Como relatado no artigo, os pesquisadores "...investigaram o impacto de uma plataforma de discussão baseada na IA, Packback, no aprendizado dos alunos e no fluxo de trabalho do professor em cursos on-line. O Packback aborda as discussões on-line usando um protocolo baseado no método socrático de questionar, atribuir aos alunos uma 'pontuação de curiosidade' e criar um boletim informativo de postagens em destaque. Inclui moderação automatizada de postagens inapropriadas. A IA, com base no comprimento das postagens, na estrutura da sentença e na presença de uma citação de fonte, entre outras variáveis, calcula as notas de classificação e curiosidade/interesse. A plataforma possui outros recursos que imitam um local de rede social e gamificam a experiência"(tradução livre).  Ainda segundo os autores, "como a IA classifica e modera as postagens, os professores podem se concentrar em interações mais significativas com os alunos, como fornecer elogios públicos ou feedback particular/individualizado. Isso ajuda a estabelecer um senso de presença no ensino".

Dados foram coletados com apenas 3 tutores de atuaram na disciplina ofertada nessa sistemática e que relataram sobre impactos mas também ambiguidades da IA. Um ponto levantado pelos tutores foi a necessidade de saber melhor como o IA calcula as notas atribuídas às postagens e se elas incluem também o feedback dos tutores publicados no fórum, caracterizando assim o elemento de "ambiguidade" nomeado pelos pesquisadores -- forma de cálculo das notas, estrutura das postagens na plataforma, dentre outros. 

Os autores identificaram elementos de incerteza mas também de curiosidade dos tutores sobre o funcionamento e uso da IA e também concluíram que: "os tutores enfrentaram o desafio de aprender uma nova tecnologia, entender como a IA funcionava e descobrir como melhor complementá-la com a intervenção humana, com interrupções mínimas na aprendizagem dos alunos ... Pesquisas adicionais estão em andamento e a equipe de pesquisa está entrevistando mais alunos e educadores ... para aumentar a validade dessas tendências ou identificar outros padrões emergentes nas disciplinas".

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Novo e-book reúne relatos de campo das práticas de educadores durante a pandemia

Acaba de ser disponibilizada pela AACE-Association for the Advancement of Computing in Education uma coleta de curtos relatos de campo de autores-educadores sobre experiências vivenciadas na transição emergencial do modelo presencial para o remoto online (link para download gratuito) nos EUA em particular. Teaching, Technology, and Teacher Education During the COVID-19 Pandemic: Stories from the Field é uma obra bastante robusta, com 133 relatos em mais de 600 páginas, e está divida nos tópicos:

  • Estratégias pedagógicas online; 
  • Comunidade e colaboração; 
  • Experiências alternativas de campo na formação inicial de professores; 
  • Métodos e Pedagogia de Formação Inicial de Professores; 
  • Desenvolvimento profissional de educadores da educação básica; 
  • Ferramentas digitais;
  • Questões de Equidade. 


Todos os capítulos contém, além da Introdução, os tópicos: Inovação (da prática emergencial relatada), Resultados, Implicações, Pesquisas futuras, Referências e Apêndices. O livro é resultado do grande número de relatos submetidos para a chamada de artigos de edição temática já publicada pelo Journal of Technology and Teacher Education (link). Foram recebidos mais de 200 trabalhos e um novo processo de revisão originou a coletânea lançada agora em formato de e-book.

Segundo os editores, "por meio da edição especial e deste livro, adotamos um rápido 'modelo médico' de ir de uma 'solicitação de trabalhos' à publicação de uma edição especial em cerca de seis semanas e a um livro em cerca de oito semanas. Este foi realmente um experimento para nós, como editores e para muitos no campo que estavam escrevendo para nós, revisando para nós ou apenas observando o que estávamos fazendo. Acreditamos que esse modelo acelerado tem mérito e deve ser considerado para futuras publicações. Isso seria particularmente verdadeiro durante eventos que requerem resposta imediata (por exemplo, uma pandemia)".

terça-feira, 16 de junho de 2020

Erros comuns no ensino online e práticas mais adequadas às redes digitais

Uma das maiores dificuldades da transição do presencial para o online está no fato de que o contexto das redes sociais digitais, da internet, é muito diferente da sala de aula presencial, particularmente no que se refere à sociabilidade horizontal das redes em contraste com a autoridade e centralidade do professor. Não há soluções fáceis nem rápidas para esse dilema, mas cito um relato de pesquisa com adultos que nos ajuda a compreendê-lo um pouco mais para buscar práticas mais adequadas.

O artigo intitulado Learning in Social Networks: Rationale and Ideas for Its Implementation in Higher Education (Aprendizagem nas redes sociais: justificativa e idéias para sua implementação no ensino superior) (link) das pesquisadoras Ibis M. Alvarez e Marialexa Olivera-Smith, relata estudo estudo de 2013 mas que se mantém bastante atual. Elas investigaram processos informais de aprendizagem nas redes sociais digitais para discutir e refletir sobre dilemas da aprendizagem formal online. Segundo as autoras, processos informais de aprendizagem nas redes sociais resultam de múltiplas conexões e trocas entre participantes, que assumem tanto o papel de professor quanto de aprendizes, diferente da tradicional hierarquia de saberes da educação formal.
As pesquisadoras afirmam que "uma das questões mais delicadas sobre o uso das redes sociais no ensino superior é que atraem estudantes justamente porque não são controlados institucionalmente como AVAs, o que a maioria das universidades implementa com um único objetivo (a saber, o aprendizado)". Diante dessa constatação, no que se refere ao papel do professor nas redes, elas sugerem:

  • Permitir que o grupo seja emergente em sua aprendizagem.
  • Permitir que os participantes busquem seus próprios ritmos e formas de trabalhar juntos.
  • Acompanhar atentamente o grupo, sem interferir, mas estando pronto para ajudar.
  • Usar organizadores avançados para criar uma estrutura pedagógica para os participantes usarem quando estiverem prontos.
  • Criar ações de "andaimes" (scaffolding) específicos em contextos específicos.
E propõem, ainda:
  • A promoção de trabalho colaborativo ao invés de práticas de disseminação de informações.
  • A introdução da auto-regulação da aprendizagem ao invés de trabalho dirigido pelo professor. 
  • Contribuir para o desenvolvimento de um senso de comunidade. 
  • Acomodar diferenças individuais.
  • Estabelecer práticas de avaliação conectadas com tarefas típicas das redes digitais. 


segunda-feira, 15 de junho de 2020

IP.TV, usada por milhões na rede pública de ensino, tem ligações com bolsonaristas, revela The Intercept

Reportagem do site de notícias The Intercept (link) revela que a Ip.TV está sendo utilizada por 7,7 milhões de alunos em SP, Paraná, Amazonas, Pará e Piauí e é acusada de ser ligada a políticos bolsonaristas. Os repórteres Amanda Audi e Pedro Zambarda afirmam que "em um dos apps, os alunos são expostos diretamente a mentiras e teorias da conspiração bolsonaristas" e que "os aplicativos têm problemas: apresentam defeitos de transmissão de som e imagem e não funcionam em celulares mais antigos. Mais grave, entregam à IP.TV, a empresa que os desenvolveu, uma série de dados pessoais de estudantes menores de idade e seus professores". No aplicativo Mano, de streaming dessa empresa, o principal canal é a TV Bolsonaro e está acessível a todos os alunos usuários do serviço.


Segundo a reportagem, "para usar os aplicativos, professores e estudantes são obrigados a concordar com as políticas de privacidade, que incluem o acesso da IP.TV a dados das secretarias de educação, com informações como nome, e-mail, ano e série cursados. Além do álbum de fotos, os apps também podem ter acesso ao microfone do celular e a trocas de mensagens em grupos de bate-papo, que podem ficar guardadas por até seis meses. O Mano ainda pode exibir publicidade aos usuários – apesar de a IP.TV garantir que isso nunca foi feito".

"Aprendizagem online não é o futuro", afirma professor de universidade da Califórnia

O provocativo artigo intitulado Online Learning Is Not the Future (link) merece a nossa atenção por alguns motivos. O mais importante é que o professor Peter Herman, da área de literatura inglesa, mostra opiniões de seus alunos (considerados por ele nativos digitais, e residentes da Califórnia) que, pela primeira vez, vivenciaram cerca de metade do curso presencial e, com a chegada da pandemia do Covid-19, a outra metade do curso online. Ou seja, eles puderam comparar o mesmo curso nas duas modalidades. Obviamente, a segunda metade se deu de forma emergencial e com todos os problemas gerados pela pandemia. Ainda assim, os depoimentos dos alunos precisam ser ouvidos, argumenta Herman.

O mais contundente deles afirmou: "Alguns dos melhores cursos que fiz durante meu tempo na faculdade foram em turmas pequenas, onde o professor e os alunos desenvolvem um senso de confiança um com o outro. Essa confiança só pode ser alcançada pelo contato pessoa a pessoa. Existe esse nível de intimidade que simplesmente não pode se desenvolver em um ambiente online. A experiência da faculdade é realmente sobre fazer conexões humanas" (tradução livre). 

Em geral, os alunos reclamaram que "não pago mensalidade para assistir vídeos no Youtube sozinho"-- uma forte crítica a conteúdos gravados sem atividades interativas -- e da ausência/distanciamento do professor e da falta de práticas dialogadas de aprendizagem (professor-aluno; aluno-aluno). Outros depoimentos:

  • "[O curso] parecia fácil demais", escreveu um terceiro. "Não me senti desafiado como na primeira metade do semestre e senti que a qualidade do aprendizado havia caído muito." 
  • "Vi as palestras postadas, mas não estava aprendendo o material", escreveu outro. Ao todo, a mudança on-line causou "um profundo sentimento de perda". 
  • Um vídeo pré-gravado “é de longe o menos eficiente e benéfico [modo de aprendizado]. Vídeos pré-gravados não dão aos alunos espaço para fazer perguntas ou participar de discussões em classe”.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Revista Distance Education publica número temático sobre práticas de educação aberta

A revista Distance Education (link) acaba de publicar número temático sobre educação aberta (open education) intitulado Avançando com as práticas de educação aberta. Os editores propõem que as open educational practices (OEP) - práticas educacionais abertas - sejam compreendidas "como um construto multidimensional e interdisciplinar que engloba uma gama diversificada de práticas abertas - incluindo aumento do acesso a oportunidades e materiais educacionais, abordagens abertas à aprendizagem, ensino, pedagogia e conhecimentos científicos, e uso educacional de dados e softwares abertos". 

E elaboram a problemática, no campo da pesquisa, ao argumentarem que: "no quadro conceitual do OEP, são práticas (em vez de, digamos, recursos ou cursos) que são descritas como abertas. No entanto, o que exatamente torna uma prática aberta ou fechada permanece uma questão em aberto; suas respostas são múltiplas e provisórias. A ênfase na abertura das práticas permite o uso da OEP como uma lente crítica através da qual se pode examinar exatamente o que, em um determinado caso, é aberto; para qual finalidade; e em benefício de quem (Havemann, 2020). Esses ângulos críticos são muito necessários para promover o debate acadêmico e, mais importante, as próprias práticas".

O número temático traz artigos que abordam a prática aberta inclusiva; a interseção entre justiça social, enriquecimento cultural e aprendizado ao longo da vida; a falta de diversidade epistêmica na OEP; as experiências dos alunos; as lições aprendidas com o uso de livros abertos, OEP na educação básica; o significado e a forma de colaboração na prática aberta e, por fim, a capacitação no e através do OEP.

Destaque para o artigo Affordances, challenges, and impact of open pedagogy: examining students’ voices, de Evrin Baran e Dan AlZoubi. O estudo relata resultados de relatórios reflexivos e entrevistas com 13 estudantes engajados em práticas de pedagogia aberta em torno dos temas de  curadoria de conteúdo, feedback de colegas, envolvimento da comunidade, desenvolvimento, reflexão e scaffolding (assistência ativa), e apresenta um modelo de pedagogia aberta em ação para debate e reflexão.

domingo, 7 de junho de 2020

Revista FAPESP publica reportagem sobre mudanças na EaD na pandemia

A revista Pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) acaba de publicar reportagem intitulada "Para além da sala de aula" de autoria do jornalista Bruno de Pierro. O texto possui abrangência internacional e aborda desafios, problemas e potenciais da educação a distância e as mudanças na educação escolar no contexto da pandemia do Covid-19. Acesso pelo link.

Além de depoimentos do coordenador do Grupo LER, da UFC, o artigo contou também com  a contribuição do renomado pesquisador canadense Stephen Downes (Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá) e de pesquisadores de destaque do Brasil, como Lucila Pesce (UNIFESP) e Klaus Schlünzen Junior (UNESP).

terça-feira, 2 de junho de 2020

Revista Horizontes, da SBC, publica série de artigos sobre educação online

A revista Horizontes, editada pela Sociedade Brasileira de Computação, inicia a publicação de uma série de artigos sobre a educação online a partir dos episódios deflagrados pela pandemia do Covid-19 no campo da educação não presencial. De autoria de Mariano Pimentel, doutor em Informática, e Felipe P. de Carvalho, doutorando em Educação, o artigo inicial da série é intitulado "Princípios da Educação Online: para sua aula não ficar massiva nem maçante!" (acesso no link). Como o título indica, os autores apresentam conceitos e práticas que caracterizam essa modalidade educacional através de 8 princípios detalhados no texto:

Princípio 1 – Conhecimento como “obra aberta” (em vez de “mensagem fechada”)

Princípio 2 – Curadoria de conteúdos + sínteses e roteiros de estudo (em vez da produção de conteúdos próprios para EAD)

Princípio 3 – Ambiências computacionais diversas (em vez de se restringir aos serviços do Ambiente de Aprendizagem)

Princípio 4 – Aprendizagem em rede, colaborativa (em vez de aprendizagem isolada)

Princípio 5 – Conversação entre todos, em interatividade (em vez de apresentação de conteúdos)

Princípio 6 – Atividades autorais inspiradas nas práticas da cibercultura (em vez de “estudo dirigido”)

Princípio 7 – Mediação docente online para colaboração (em vez de “tutoria reativa”)

Princípio 8 – Avaliação formativa e colaborativa, baseada em competências (em vez de apenas exames presenciais).

Agora os autores iniciaram o detalhamento desses 8 princípios em artigos específicos, aprofundando-os através de análise de perspectivas teóricas e de experiências práticas coletadas. O primeiro desse artigos intitula-se "Aprendizagem online é em rede, colaborativa: para o aluno não ficar estudando sozinho a distância" (acesso no link). Em breve, outros artigos detalhando princípios do artigo principal serão adicionados à coleção no website da Horizontes.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Quatro problemáticas das tecnologias digitais e da educação a distância no contexto emergencial do Covid-19


Em excelente editorial do periódico Learning, Media and Technology de 21 de maio,  os editores britânicos Ben Williamson, Rebecca Eynon e John Potter elaboram 4 problemáticas das tecnologias digitais e da educação a distância no contexto emergencial do coronavírus: a economia política da pedagogia da pandemia, as desigualdades digitais, os novos espaços-tempos e hierarquias da pedagogia e as experimentações emergentes com as tecnologias educacionais. Os pesquisadores alertam para o fato de que "política pandêmica agora está se desenrolando através de tentativas de incorporar sistemas e práticas de educação pública, em âmbito internacional, em sistemas tecnológicos cada vez mais poderosos" e incentivam renovadas pesquisam que examinem essas práticas e seus efeitos" e alertam para a necessidade do exame detalhado e cuidadoso dos efeitos e consequências dessas práticas. O artigo completo está disponível neste link.


Ao analisarem as quatro problemáticas, os editores se baseiam em alguns estudos prévios e alertam para o forte caráter de oportunidade de negócios que a indústria das tecnologias educacionais tem imprimido ao período da pandemia e para a necessidade de sérios cuidados diante da expansão de sistemas nacionais de educação pública para essas plataformas comerciais online adentrando as casas dos estudantes com destaque a organismos internacionais como Unesco e Banco mundial nesse cenário em rápida transformação e disputas entre EUA e china também neste cenário. Alertam também para a fragilidade da retórica entorno dos nativos digitais e das muitas dificuldades de jovens em se manterem aptos da fazerem bom uso das tecnologias digitais para a aprendizagem, levantando a pergunta sobre o nível adequado de acesso digital e como jovens e famílias podem receber o suporte necessário para estudar em casa de forma sustentável e duradoura e os riscos imprevisíveis gerados pela ampliação do acesso.
Ao ratarem da terceira problemática citada, cunham o termo Bring Your Own School Home (BYOSH) (algo como: traga sua própria escola para casa) alertando para as múltiplas e exaustivas interferências com rotinas domésticas e familiares daí advindas da polissincrona aprendizagem remota e potencial sobrecarga cognitiva de professores, alunos e pais. Apontam para a terceira via do que nomeiam "Tecnologias de convívio".  "Aqui, poderíamos invocar a noção de práticas que remetem ao poder, em que a direção do fluxo não se trata de "conteúdo" sendo entregue a jusante pelo algoritmo, mas de espaços mais abertos, agentes e produtivos para alunos e educadores", afirmam os editores. No que se refere à última problemática, a da experimentação atual com tecnologias educacionais no universo de 1,5 bilhões de estudantes do planeta, apontam para o surgimento de grandes bases de dados sobre eficácia dessas tecnologias e os ricos de precarização do trabalho dos educadores, acentuando o fortalecimento das práticas de dataficação e massificação, através da significativa ampliação dos usos das tecnologias em rede, na área educacional. "À medida que milhões de estudantes se inscrevem em novas plataformas para poder acessar a educação durante a pandemia, é necessário trazer de volta ao foco as preocupações de longa data sobre privacidade de dados e o uso de dados para caracterização e controle dos alunos", concluem.






sexta-feira, 22 de maio de 2020

A boa alternativa das interfaces digitais livres em tempos de pandemia


As atividades escolares remotas em tempos de pandemia do Covid-19 levaram muitas pessoas, inclusive crianças, a utilizarem novas interfaces digitais para atividades diversas na internet. Um aspecto desse uso refere-se aos riscos envolvidos, como a exposição a conteúdos inadequados e a ausência de garantias de privacidade das trocas comunicacionais (a plataforma Zoom, por exemplo, admitiu que conteúdos de conversas foram vazados antes de promover melhorias tecnológicas no serviço). Além disso, os serviços comerciais, em sua grande maioria, coletam dados de uso dos usuários para fins comerciais, constituindo práticas de vigilância eletrônica em rede (para mais detalhes sobre essa problemática, ver este artigo no link).


Uma alternativa recomendada hoje são aquelas interfaces e serviços desenvolvidos segundo a filosofia colaborativa e aberta do software livre, que privilegia o usuário e sua liberdade em detrimento do desenvolvedor do produto, ou seja, os interesses mercadológicos da empresa de software. Em resumo, como esses softwares são desenvolvidos em equipes autônomas e possuem seus dados computacionais abertos (o que é tecnicamente chamado de código-fonte aberto), qualquer desenvolvedor ou interessado poderá acessá-lo e verificar suas formas de funcionamento, como os mecanismos de coleta de dados de usuários, se houver – ao contrário do que acontece com a enorme maioria dos produtos comerciais fechados hoje disponíveis na internet. Em geral essas interfaces, quando trazem termos e condições de uso, o fazem de forma mais transparente.

Há produtos desse tipo que são conhecidos por uma parcela da população, dentre eles os sistemas de mensagens instantâneas Signal e Q-municate, o navegador para internet Tor, o buscador para internet DuckDuckGo e serviços de e-mail, em geral sediados em países europeus, como o Posteo, da Alemanha, e o Openmailbox, da França. 

Para a realização das aulas remotas que têm acontecido atualmente, existem diversas plataformas para webconferência (comunicação instantânea em tempo real por chamada de vídeo e audio para diversos usuários conectados à internet, compartilhamento de arquivos, etc.) que operam nessa mesma sistemática, como a RocketChat GDPR, a Zulipchat e o Jitsi, dentre outras e estão disponíveis para computadores, tablets e telefones celulares. O Tox é totalmente criptografado. O Moodle é o ambiente virtual de aprendizagem mais difundido no mundo, é gratuito e opera segundo os princípios do software livre.

Ao clicar no nome de cada empresa ou software proprietário, você verá alternativas livres que adotam diretrizes e práticas mais claras sobre a privacidade e segurança dos usuários neste link 
Segue um breve lista de interfaces e serviços livres, ou seja, em código aberto o que permite verificar seu modo de funcionamento pelo exame do código-fonte aberto:

AVA Moodle (inclusive com interface para dispositivos móveis): https://moodle.org/?lang=pt_br

Buscador para internet DuckDuckGo: https://duckduckgo.com/

Navegador para internet TOR:https://www.torproject.org/pt-BR/download/

Conferências e vídeo chamadas sem login (porém, sem criptografia ponta a
ponta):
 * Jitsi do Systemli: https://meet.systemli.org/
 * Jitsi do Autistici/Inventati: https://vc.autistici.org/
 * Jitsi do Mayfirst: https://meet.mayfirst.org/
 * Jitsi do Immerda: https://meet.immerda.ch/

Elaboração de textos de forma compartilhada:
 https://pad.systemli.org/
 https://pad.riseup.net/
 https://framapad.org

Compartilhamento temporário de arquivos (100mb max, expira em 1 semana)
 https://share.riseup.net/

Outros serviços comunitários (mapas, formulários e muito mais):
 https://framasoft.org/en/


quarta-feira, 20 de maio de 2020

O conhecimento científico e as práticas educacionais híbridas emergentes

Apesar dos valorosos esforços de educadores de todas as latitudes engajados na busca de soluções para os atuais problemas da educação não-presencial, percebe-se certa fragilidade de práticas implementadas, algumas reproduzindo problemas da educação presencial. Muitas carecem de conhecimentos científicos e ganham espaço movidas por interesses comerciais diversos e que nem sempre priorizam a qualidade do processo formativo dos estudantes. Dois documentos são muito úteis nesse momento não apenas para embasarem práticas educacionais tradicionais e emergentes, mas também para alertarem para a fragilidade do conhecimento científico disponível sobre algumas ações pedagógicas, especialmente sobre os modelos híbridos -- a união do presencial com o on-line -- de ensino (o blended learning). 

O primeiro documento que tem muita utilidade é da área de educação a distância (EaD) e intitula-se What works in distance learning (O que funciona na educação a distância) editado pelo professor Harold F. O’Neil da University of Southern California. Foi divulgado pela primeira vez em 2003 e, anos depois, deu origem a um livro com o mesmo título que se encontra disponível para venda na internet. Esses conhecimentos não devem ser transferidos automaticamente para práticas híbridas (ainda que possam iluminar algumas delas) e muitos não se aplicam a crianças. Referem-se a práticas tradicionais de EaD com adultos. O documento, em inglês, pode ser acessado neste link

O relatório traz informações em tópicos com diretrizes de ações sobre cinco esferas da educação a distância: formas de instrução, uso de multimídia, estratégias de aprendizagem, gestão e  avaliação. Cada tópico foi desenvolvido por especialistas na área e contém dados assim organizados: explicações gerais e técnicas sobre a diretriz apresentada, a origem da diretriz e o seu grau de confiabilidade com base em resultados de pesquisas científicas, comentários (citando estudos prévios que sustentam a diretriz), referências, glossário e usuários a que se destina. 

Por exemplo, no capítulo 2 o pesquisador Richard Clark afirma que "[em um curso a distância] à medida que o controle, a liberdade do estudante aumentam, o aprendizado diminui, exceto por um número muito pequeno dos estudantes mais avançados". Ou seja, "quando os cursos a distância estabelecem o sequenciamento, as estratégias de aprendizagem durante a instrução e permitem apenas o controle mínimo do estudante sobre o ritmo, então, exceto os alunos de alta performance, o aprendizado irá aumentar". O documento informa que a diretriz é baseada em "pesquisas" e que o grau de confiança na afirmativa é "alto". Em seguida, no tópico "Comentários" do relatório, o pesquisador explica a diretriz: "... Uma revisão abrangente e meta-análise de muitos estudos de controle de alunos [...] relataram um impacto negativo geral [do excesso de controle]. Esse impacto negativo se estende a estudos em que os alunos foram autorizados a selecionar a quantidade de controle que exerceram ao longo do curso [...] ". O tópico segue indicando os estudos que baseiam a diretriz e traz um glossário com explicações sobre conceitos utilizados e uma lista dos artigos científicos cujos estudos embasam a diretriz proposta. Em resumo, a diretriz informa que um bom curso a distância deve ter atividades bastante estruturadas, conter instruções claras e objetivas sobre o que o estudante precisa fazer e como deve fazer.

O outro documento de referência, intitulado Preparing for the Digital University, trata da digitalização das universidades e centra-se nos cursos massivos on-line conhecidos como MOOCs. Foi produzido por pesquisadores renomados sob a coordenação de George Siemens e financiado pela fundação mantida por Bill Gates e sua esposa. O documento se divide em 4 capítulos -- um deles sobre o ensino híbrido -- em que são apresentadas revisões sistemáticas dos principais estudos científicos desenvolvidos e conclusões sobre o "estado da arte" do conhecimento, muitos deles ainda válidos hoje. Acesso ao documento completo neste link.

Destaca-se o tópico sobre ensino híbrido, prática que se anuncia como importante hoje diante das dificuldade da pandemia para a reabertura das escolas e universidade e altos riscos de agravamento do contágio e mortes pelo Covid-19. No que se refere, portanto, ao tópico do ensino híbrido, as conclusões com bases em conhecimentos científicos são pouco alentadoras, pois o conhecimento é frágil e recomenda cautela. A seguir reproduzimos trecho traduzido do documento com conclusões apresentadas pelos pesquisadores: 

"Primeiro, as conclusões dos estudos de eficácia concluem que a combinação de modelos instrucionais presencial e online tem um efeito mais alto no desempenho acadêmico do aluno do que qualquer um dos modelos independentes. No entanto, até o momento, existem evidências limitadas sobre quais métodos específicos de mesclagem afetam positivamente o desempenho acadêmico. Segundo, as práticas instrucionais recomendadas refletem as melhores práticas existentes desenvolvidas nos modos online e presencial, com forte dependência do online/EaD. O (re)design do curso mantém seu foco em abordagens que ajudam a capitalizar os benefícios percebidos desses modos de entrega separados, por exemplo, a presença social aprimorada e a construção de relacionamentos através dos modos presenciais (Rovai & Jordan, 2004; Shea & Bidjerano, 2013), e o controle do aluno e a flexibilidade de acesso através dos modos online (Graham, 2013). Terceiro, o campo de pesquisa se apóia fortemente nos conceitos desenvolvidos na educação online/EaD, enquanto não possui suas próprias teorias para abordar a própria mistura [o modelo híbrido]. Consequentemente, apesar da abundância de relatos individuais de experiências combinadas, há uma falta de pesquisa empírica da especificidade do modelo híbrido para refinar as lentes teóricas específicas da combinação presencial-online.

Essa dependência dos dois modos de entrega (presencial/online), que deu origem ao modelo híbrido, resulta em poucas evidências sobre a real combinação dos dois modelos - um conjunto diversificado de práticas com o potencial de superar o status de um modo de entrega combinado para se tornar um método pedagógico eficaz. Embora as escolhas por trás da pedagogia estejam altamente relacionadas ao desenvolvimento do processo de aprendizagem, na verdade existem poucas evidências sobre o aprendizado nas práticas da aprendizagem híbrida. Apesar de existirem projetos de pesquisa complexos e com diversas nuances, estudos recentes sobre a eficácia da aprendizagem híbrida se enquadram na categoria "pesquisa de aprendizagem de superfície" (Ross & Morrison, 2014), pois não mostram o efeito de vários tipos de aprendizagem, mantendo o foco apenas na performance dos estudantes e em seu desempenho acadêmico. Além disso, as práticas instrucionais mal abordam as interações entre os alunos e o conteúdo, e o papel do professor tem sido negligenciado. Finalmente, a pesquisa não adota teorias que unam sinergicamente o aprendizado que ocorre entre a conexão do físico com o virtual.

A pesquisa sobre a aprendizagem híbrida forneceu algumas evidências de que certos tipos de tecnologia são mais propícios à aferição de resultados de aprendizagem, o que traz o meio [a tecnologia, a mídia] de volta à conversa sobre aprendizagem e pedagogia (Clark, 1983; Kozma, 1991, 1994). Além disso, o desenvolvimento de recursos tecnológicos e da onipresença tecnológica em algumas partes do mundo sugere que a tecnologia digital pode ajudar a estender os processos informais de aprendizagem, tanto social quanto cognitivamente. Em outras palavras, além de diminuir a distância psicológica entre os participantes separados [fisicamente] no processo de aprendizagem, apesar de sua proximidade percebida (Thompson, 2007), as atividades pedagógicas mediadas pela tecnologia precisam se adequar ao que essa tecnologia pode propiciar.

Em suma, com base nas evidências sintetizadas neste relatório, argumentamos que insights mais profundos e focados na aprendizagem digital - ou seja, a aprendizagem mediada por vários métodos tecnológicos de transcender o espaço físico e virtual - permitiriam que os praticantes da aprendizagem híbrida fizessem melhores escolhas pedagógicas. Além disso, relatos mais detalhados das práticas da aprendizagem híbrida, tanto por administradores quanto por pesquisadores, ajudará nosso entendimento das nuances da aprendizagem híbrida para além do aspecto que se refere ao modelo de instrução que combina elementos do presencial e do online. Por fim, o foco na interação entre processos de aprendizagem e recursos tecnológicos permitiria que os pesquisadores da aprendizagem híbrida reformulassem suas investigações de maneira a levar a um amadurecimento adicional do campo" (páginas 83 e 84 do relatório).

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Técnica de Rastreamento Ocular Revela Estratégias de Alunos de EaD

A Revista Brasileira de Educação Aberta e a Distância acaba de publicar o artigo Técnica de Rastreamento Ocular Revela Estratégias de Ações Múltiplas e não Lineares de Navegação Virtual de Alunos de EAD no AVA e na Internet. O estudo integra projeto de pesquisa do Grupo LER e foi parcialmente financiado pelo CNPq. A coleta dos dados foi conduzida com alunos da parceria UFC-UAB e contou, dentre outras, com a técnica do rastreamento ocular - inédita nesta área da educação - e que compreende a documentação e a análise dos movimentos dos olhos dos alunos enquanto estudam com o computador. Isso gerou uma base de informações com dados altamente precisos, detalhados e confiáveis sobre as ações dos alunos de EaD quando estudam. Clique aqui para acessar o artigo.
Algumas conclusões do estudo foram: "Ao navegar no AVA, em geral, os alunos não seguiram a sequência linear do ambiente e, especificamente nas páginas das Aulas, desprezaram alguns elementos imagéticos e hipertextuais por considera-los dispensáveis à aprendizagem. Os dados analisados originaram duas categorias de navegação virtual: simples, em que os alunos se concentram na navegação no AVA; e complexas, na qual os alunos percorreram trilhas diversas e acessaram websites, blogs, arquivos na rede e ampliaram os conteúdos disponibilizados no AVA. Isso gerou, em alguns casos, perda de foco na tarefa e dificuldades na compreensão de conceitos. Ressalta-se a ação autônoma do aluno de EaD ao formular e executar estratégias de navegação adequadas a seus objetivos de estudo, às características do AVA e aos materiais de estudo, visando realizar atividades programadas e aprender". 

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Metodologias de aprendizagem ativa melhoram performance de estudantes de grupos minoritários

Está repercutindo nas redes e meios acadêmicos artigo publicado por grupo de pesquisadores da área de ciências biológicas na prestigiada revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (PNAS). Intitulado Active learning narrows achievement gaps for underrepresented students in undergraduate science, technology, engineering, and math,  o artigo apresenta resultados de revisão sistemática de 41 estudos que demonstrou que disciplinas e cursos centrados nas metodologias da aprendizagem ativa (em que os próprios alunos realizam atividades, diferente das aulas expositivas tradicionais) respondem:
  • por uma redução de 33% na diferença entre os valores das notas obtidas em avaliações formais de estudantes de minorias (negros, latinos, indígenas e de baixa renda) quando comparadas com estudantes tradicionais (brancos e de origem asiática); 
  • por uma redução de 45% nos índices de aprovação em disciplinas também na comparação entre estudantes de minorias e estudantes tradicionais. 

Os autores alertam, porém, para o fato de que reduções importantes das diferenças de notas e de aprovação entre os dois segmentos somente ocorrem quando o design de cursos com base na aprendizagem ativa se somam a:  1) uma prática comprometida com o avanço dessas minorias e 2) uma docência inclusiva, ou seja, quando o professor acredita que estudantes dessas minorias podem ser bem sucedidos. Isso terá impacto positivo inclusive para redução dos índices de evasão nos cursos dessas áreas. Os pesquisadores alertam: "...os professores pouco familizarizados com a aprendizagem ativa podem precisar iniciar seus esforços para redesenhar cursos com intervenções de baixa intensidade e com menor probabilidade de melhorar os resultados dos seus alunos de imediato. Nesse caso, o objetivo deve ser o de persistir, fazendo mudanças incrementais até que todos os instrutores estejam ensinando em uma estrutura de alta intensidade e baseada em evidências [da aprendizagem ativa], adaptada aos seus cursos e populações de estudantes".

Os autores concluem: "Nossos resultados apóiam propostas para substituir palestras tradicionais [aulas expositivas] por projetos de cursos de aprendizado ativo e baseados em evidências nas disciplinas STEM [das ciências exatas e biológicas] e sugerem que inovações em estratégias instrucionais podem aumentar a equidade no ensino superior".

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Novas pesquisas sobre educação on-line orientam práticas atuais

No contexto de iniciativas diversas em tempos de distanciamento social, resultados de pesquisas científicas devem guiar ações da educação on-line. A última edição do Computers & Education traz pelo menos dois estudos que podem contribuir para melhor avaliar propostas e iniciativas atuais. O artigo Online vs traditional homework: A systematic review on the benefits to students’ performance recomenda cautela em atividades totalmente do "dever de casa" com base em revisão sistemática sobre o tema. A pesquisa analisou 31 estudos já publicados sobre "dever de casa", realizados através de plataformas educacionais (como ambientes virtuais de aprendizagem) e de forma tradicional, por estudantes universitários das áreas de ciências exatas.  

Metade dos estudos analisados (15) não demonstraram ganhos de aprendizagem dos alunos ao realizarem o "dever de casa" on-line. Nove estudos demonstraram benefícios das tarefas on-line e seis deles apresentaram resultados mistos, não indicando benefícios claros de uma modalidade em comparação com a outra. Dessa forma, os autores consideram que um formato híbrido possa ser o mais benéfico aos estudantes.

O segundo artigo, intitulado Multimodal digital classroom assessments apresenta resultados positivos de práticas educativas na Noruega em que professores desenvolveram e aplicaram instrumentos de avaliação da aprendizagem multimodais (com elementos textuais e audiovisuais digitais, como a criação de um vídeo sobre conceitos da matemática) com seus alunos que oferecem alternativas viáveis aos tradicionais testes padronizados aplicados nas redes de ensino por terem sido considerados válidos.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Dificuldades dos professores universitários dos EUA e Canadá com a docência on-line na pandemia

O primeiro levantamento sobre o comportamento das ações on-line de professores universitários dos EUA (846 professores em 641 IES) e Canadá (20 professores) no contexto da pandemia do Covid-19 acaba se ser publicado e revela problemas e dificuldades enfrentadas por esses profissionais, a maioria sem experiência prévia com a docência não presencial. O dado mais preocupante aponta que a grande maioria dos professores transferiu suas aulas presenciais para algum sistema de vídeo-aula, dando a entender que o foco foi a transmissão de conteúdos pela internet sem um desenho didático e um contexto digital voltado a esse fim (ao contrário, professores com experiência on-line mais freqüentemente evitaram video-aulas e utilizaram AVAs). Além disso, a maioria dos professores sem experiência on-line admitiu que reduziu o nível de cobrança de suas disciplinas, bem como o número de atividades com nota. Essas práticas foram menos pronunciadas no caso daqueles professores que já possuíam algum conhecimento e experiência prática prévia com a docência on-line. Esse outro link traz informações mais detalhadas sobre o estudo. Conhecimentos considerados mais críticos e desejáveis para esses professores foram aquelas que se referiam às melhores maneiras de oferecer suporte aos alunos on-line e sobre como se tornarem bem sucedidos nesse contexto.