Apesar dos valorosos esforços de educadores de todas as latitudes engajados na busca de soluções para os atuais problemas da educação não-presencial, percebe-se certa fragilidade de práticas implementadas, algumas reproduzindo problemas da educação presencial. Muitas carecem de conhecimentos científicos e ganham espaço movidas por interesses comerciais diversos e que nem sempre priorizam a qualidade do processo formativo dos estudantes. Dois documentos são muito úteis nesse momento não apenas para embasarem práticas educacionais tradicionais e emergentes, mas também para alertarem para a fragilidade do conhecimento científico disponível sobre algumas ações pedagógicas, especialmente sobre os modelos híbridos -- a união do presencial com o on-line -- de ensino (o blended learning).
O primeiro documento que tem muita utilidade é da área de educação a distância (EaD) e intitula-se What works in distance learning (O que funciona na educação a distância) editado pelo professor Harold F. O’Neil da University of Southern California. Foi divulgado pela primeira vez em 2003 e, anos depois, deu origem a um livro com o mesmo título que se encontra disponível para venda na internet. Esses conhecimentos não devem ser transferidos automaticamente para práticas híbridas (ainda que possam iluminar algumas delas) e muitos não se aplicam a crianças. Referem-se a práticas tradicionais de EaD com adultos. O documento, em inglês, pode ser acessado neste link.
O relatório traz informações em tópicos com diretrizes de ações sobre cinco esferas da educação a distância: formas de instrução, uso de multimídia, estratégias de aprendizagem, gestão e avaliação. Cada tópico foi desenvolvido por especialistas na área e contém dados assim organizados: explicações gerais e técnicas sobre a diretriz apresentada, a origem da diretriz e o seu grau de confiabilidade com base em resultados de pesquisas científicas, comentários (citando estudos prévios que sustentam a diretriz), referências, glossário e usuários a que se destina.
Por exemplo, no capítulo 2 o pesquisador Richard Clark afirma que "[em um curso a distância] à medida que o controle, a liberdade do estudante aumentam, o aprendizado diminui, exceto por um número muito pequeno dos estudantes mais avançados". Ou seja, "quando os cursos a distância estabelecem o sequenciamento, as estratégias de aprendizagem durante a instrução e permitem apenas o controle mínimo do estudante sobre o ritmo, então, exceto os alunos de alta performance, o aprendizado irá aumentar". O documento informa que a diretriz é baseada em "pesquisas" e que o grau de confiança na afirmativa é "alto". Em seguida, no tópico "Comentários" do relatório, o pesquisador explica a diretriz: "... Uma revisão abrangente e meta-análise de muitos estudos de controle de alunos [...] relataram um impacto negativo geral [do excesso de controle]. Esse impacto negativo se estende a estudos em que os alunos foram autorizados a selecionar a quantidade de controle que exerceram ao longo do curso [...] ". O tópico segue indicando os estudos que baseiam a diretriz e traz um glossário com explicações sobre conceitos utilizados e uma lista dos artigos científicos cujos estudos embasam a diretriz proposta. Em resumo, a diretriz informa que um bom curso a distância deve ter atividades bastante estruturadas, conter instruções claras e objetivas sobre o que o estudante precisa fazer e como deve fazer.
O outro documento de referência, intitulado Preparing for the Digital University, trata da digitalização das universidades e centra-se nos cursos massivos on-line conhecidos como MOOCs. Foi produzido por pesquisadores renomados sob a coordenação de George Siemens e financiado pela fundação mantida por Bill Gates e sua esposa. O documento se divide em 4 capítulos -- um deles sobre o ensino híbrido -- em que são apresentadas revisões sistemáticas dos principais estudos científicos desenvolvidos e conclusões sobre o "estado da arte" do conhecimento, muitos deles ainda válidos hoje. Acesso ao documento completo neste link.
Destaca-se o tópico sobre ensino híbrido, prática que se anuncia como importante hoje diante das dificuldade da pandemia para a reabertura das escolas e universidade e altos riscos de agravamento do contágio e mortes pelo Covid-19. No que se refere, portanto, ao tópico do ensino híbrido, as conclusões com bases em conhecimentos científicos são pouco alentadoras, pois o conhecimento é frágil e recomenda cautela. A seguir reproduzimos trecho traduzido do documento com conclusões apresentadas pelos pesquisadores:
"Primeiro, as conclusões dos estudos de eficácia concluem que a combinação de modelos instrucionais presencial e online tem um efeito mais alto no desempenho acadêmico do aluno do que qualquer um dos modelos independentes. No entanto, até o momento, existem evidências limitadas sobre quais métodos específicos de mesclagem afetam positivamente o desempenho acadêmico. Segundo, as práticas instrucionais recomendadas refletem as melhores práticas existentes desenvolvidas nos modos online e presencial, com forte dependência do online/EaD. O (re)design do curso mantém seu foco em abordagens que ajudam a capitalizar os benefícios percebidos desses modos de entrega separados, por exemplo, a presença social aprimorada e a construção de relacionamentos através dos modos presenciais (Rovai & Jordan, 2004; Shea & Bidjerano, 2013), e o controle do aluno e a flexibilidade de acesso através dos modos online (Graham, 2013). Terceiro, o campo de pesquisa se apóia fortemente nos conceitos desenvolvidos na educação online/EaD, enquanto não possui suas próprias teorias para abordar a própria mistura [o modelo híbrido]. Consequentemente, apesar da abundância de relatos individuais de experiências combinadas, há uma falta de pesquisa empírica da especificidade do modelo híbrido para refinar as lentes teóricas específicas da combinação presencial-online.
O primeiro documento que tem muita utilidade é da área de educação a distância (EaD) e intitula-se What works in distance learning (O que funciona na educação a distância) editado pelo professor Harold F. O’Neil da University of Southern California. Foi divulgado pela primeira vez em 2003 e, anos depois, deu origem a um livro com o mesmo título que se encontra disponível para venda na internet. Esses conhecimentos não devem ser transferidos automaticamente para práticas híbridas (ainda que possam iluminar algumas delas) e muitos não se aplicam a crianças. Referem-se a práticas tradicionais de EaD com adultos. O documento, em inglês, pode ser acessado neste link.
O relatório traz informações em tópicos com diretrizes de ações sobre cinco esferas da educação a distância: formas de instrução, uso de multimídia, estratégias de aprendizagem, gestão e avaliação. Cada tópico foi desenvolvido por especialistas na área e contém dados assim organizados: explicações gerais e técnicas sobre a diretriz apresentada, a origem da diretriz e o seu grau de confiabilidade com base em resultados de pesquisas científicas, comentários (citando estudos prévios que sustentam a diretriz), referências, glossário e usuários a que se destina.
Por exemplo, no capítulo 2 o pesquisador Richard Clark afirma que "[em um curso a distância] à medida que o controle, a liberdade do estudante aumentam, o aprendizado diminui, exceto por um número muito pequeno dos estudantes mais avançados". Ou seja, "quando os cursos a distância estabelecem o sequenciamento, as estratégias de aprendizagem durante a instrução e permitem apenas o controle mínimo do estudante sobre o ritmo, então, exceto os alunos de alta performance, o aprendizado irá aumentar". O documento informa que a diretriz é baseada em "pesquisas" e que o grau de confiança na afirmativa é "alto". Em seguida, no tópico "Comentários" do relatório, o pesquisador explica a diretriz: "... Uma revisão abrangente e meta-análise de muitos estudos de controle de alunos [...] relataram um impacto negativo geral [do excesso de controle]. Esse impacto negativo se estende a estudos em que os alunos foram autorizados a selecionar a quantidade de controle que exerceram ao longo do curso [...] ". O tópico segue indicando os estudos que baseiam a diretriz e traz um glossário com explicações sobre conceitos utilizados e uma lista dos artigos científicos cujos estudos embasam a diretriz proposta. Em resumo, a diretriz informa que um bom curso a distância deve ter atividades bastante estruturadas, conter instruções claras e objetivas sobre o que o estudante precisa fazer e como deve fazer.
O outro documento de referência, intitulado Preparing for the Digital University, trata da digitalização das universidades e centra-se nos cursos massivos on-line conhecidos como MOOCs. Foi produzido por pesquisadores renomados sob a coordenação de George Siemens e financiado pela fundação mantida por Bill Gates e sua esposa. O documento se divide em 4 capítulos -- um deles sobre o ensino híbrido -- em que são apresentadas revisões sistemáticas dos principais estudos científicos desenvolvidos e conclusões sobre o "estado da arte" do conhecimento, muitos deles ainda válidos hoje. Acesso ao documento completo neste link.
Destaca-se o tópico sobre ensino híbrido, prática que se anuncia como importante hoje diante das dificuldade da pandemia para a reabertura das escolas e universidade e altos riscos de agravamento do contágio e mortes pelo Covid-19. No que se refere, portanto, ao tópico do ensino híbrido, as conclusões com bases em conhecimentos científicos são pouco alentadoras, pois o conhecimento é frágil e recomenda cautela. A seguir reproduzimos trecho traduzido do documento com conclusões apresentadas pelos pesquisadores:
"Primeiro, as conclusões dos estudos de eficácia concluem que a combinação de modelos instrucionais presencial e online tem um efeito mais alto no desempenho acadêmico do aluno do que qualquer um dos modelos independentes. No entanto, até o momento, existem evidências limitadas sobre quais métodos específicos de mesclagem afetam positivamente o desempenho acadêmico. Segundo, as práticas instrucionais recomendadas refletem as melhores práticas existentes desenvolvidas nos modos online e presencial, com forte dependência do online/EaD. O (re)design do curso mantém seu foco em abordagens que ajudam a capitalizar os benefícios percebidos desses modos de entrega separados, por exemplo, a presença social aprimorada e a construção de relacionamentos através dos modos presenciais (Rovai & Jordan, 2004; Shea & Bidjerano, 2013), e o controle do aluno e a flexibilidade de acesso através dos modos online (Graham, 2013). Terceiro, o campo de pesquisa se apóia fortemente nos conceitos desenvolvidos na educação online/EaD, enquanto não possui suas próprias teorias para abordar a própria mistura [o modelo híbrido]. Consequentemente, apesar da abundância de relatos individuais de experiências combinadas, há uma falta de pesquisa empírica da especificidade do modelo híbrido para refinar as lentes teóricas específicas da combinação presencial-online.
Essa dependência dos dois modos de entrega (presencial/online), que deu origem ao modelo híbrido, resulta em poucas evidências sobre a real combinação dos dois modelos - um conjunto diversificado de práticas com o potencial de superar o status de um modo de entrega combinado para se tornar um método pedagógico eficaz. Embora as escolhas por trás da pedagogia estejam altamente relacionadas ao desenvolvimento do processo de aprendizagem, na verdade existem poucas evidências sobre o aprendizado nas práticas da aprendizagem híbrida. Apesar de existirem projetos de pesquisa complexos e com diversas nuances, estudos recentes sobre a eficácia da aprendizagem híbrida se enquadram na categoria "pesquisa de aprendizagem de superfície" (Ross & Morrison, 2014), pois não mostram o efeito de vários tipos de aprendizagem, mantendo o foco apenas na performance dos estudantes e em seu desempenho acadêmico. Além disso, as práticas instrucionais mal abordam as interações entre os alunos e o conteúdo, e o papel do professor tem sido negligenciado. Finalmente, a pesquisa não adota teorias que unam sinergicamente o aprendizado que ocorre entre a conexão do físico com o virtual.
A pesquisa sobre a aprendizagem híbrida forneceu algumas evidências de que certos tipos de tecnologia são mais propícios à aferição de resultados de aprendizagem, o que traz o meio [a tecnologia, a mídia] de volta à conversa sobre aprendizagem e pedagogia (Clark, 1983; Kozma, 1991, 1994). Além disso, o desenvolvimento de recursos tecnológicos e da onipresença tecnológica em algumas partes do mundo sugere que a tecnologia digital pode ajudar a estender os processos informais de aprendizagem, tanto social quanto cognitivamente. Em outras palavras, além de diminuir a distância psicológica entre os participantes separados [fisicamente] no processo de aprendizagem, apesar de sua proximidade percebida (Thompson, 2007), as atividades pedagógicas mediadas pela tecnologia precisam se adequar ao que essa tecnologia pode propiciar.
Em suma, com base nas evidências sintetizadas neste relatório, argumentamos que insights mais profundos e focados na aprendizagem digital - ou seja, a aprendizagem mediada por vários métodos tecnológicos de transcender o espaço físico e virtual - permitiriam que os praticantes da aprendizagem híbrida fizessem melhores escolhas pedagógicas. Além disso, relatos mais detalhados das práticas da aprendizagem híbrida, tanto por administradores quanto por pesquisadores, ajudará nosso entendimento das nuances da aprendizagem híbrida para além do aspecto que se refere ao modelo de instrução que combina elementos do presencial e do online. Por fim, o foco na interação entre processos de aprendizagem e recursos tecnológicos permitiria que os pesquisadores da aprendizagem híbrida reformulassem suas investigações de maneira a levar a um amadurecimento adicional do campo" (páginas 83 e 84 do relatório).
Nenhum comentário:
Postar um comentário