quinta-feira, 14 de março de 2024

Relatório alerta para os perigos da adoção, sem regulação adequada, da Inteligência Artificial nas escolas

Acaba de ser publicado relatório crítico importante intitulado Time for a Pause: Without Effective Public Oversight, AI in Schools Will Do More Harm Than Good, de autoria de Ben Williamson, Alex Molnar, and Faith Boninger (link apra acesso do texto completo). No texto, os autores indicam as diversas qualidades das interfaces de IA generativa, mas alertam para a pressão mercadológica e para o modo aligeirado e pouco crítico com que empresas e setores dos poderes públicos tem promovido e praticado a introdução dessas tecnologias no contexto da escola formal: "O peso das evidências disponíveis sugere que a atual adoção generalizada de aplicações não regulamentadas de IA nas escolas representa um grave perigo para a sociedade civil democrática e para a liberdade e a liberdade individuais. Anos de alertas e precedentes realçaram os riscos colocados pela utilização generalizada de tecnologias digitais pré-IA na educação, que obscureceram a tomada de decisões e permitiram a exploração de dados dos alunos", alertam.

Os autores analisam que: "apesar dos riscos de levar tecnologia não testada às salas de aula e da falta de critérios de implementação ou controles regulatórios, as escolas enfrentam uma pressão implacável para “modernizar” adotando a inteligência artificial. Embora os aplicativos de IA sejam comercializados como formas de resolver problemas de ensino e aprendizagem e agilizar os processos administrativos escolares, eles carregam consigo todas as limitações, problemas e riscos inerentes aos modelos de IA utilizados para executá-los. Levar a IA às escolas aumenta a probabilidade de que essas tecnologias possam reproduzir ou intensificar muitos problemas, tornando qualquer benefício potencial menos significativo do que os danos potenciais.

Duas aplicações fortemente promovidas ilustram os perigos da adoção acrítica da IA em escolas: tutoria de chatbots, baseados em grandes modelos de linguagem, que prometem personalizar e automatizar o ensino; e plataformas de aprendizagem adaptativas, que utilizam grandes quantidades de dados dos alunos para fazer previsões, personalizar recursos e atividades em sala de aula e auto-intervir automaticamente nos processos pedagógicos. Os perigos que tais produtos representam incluem demandar aos professores mais tempo do que poupam, restringindo artificialmente a definição de “aprendizagem”, marginalizando a experiência dos professores e o relacionamento com os alunos, introduzindo erros curriculares e aumentando o preconceito e a discriminação nas salas de aula e nas escolas".

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Novo livro sobre como os computadores entraram nas escolas européias a partir da década de 1960

 

Foi publicado no ano passado obra de referência intitulada How Computers Entered the Classroom, 1960–2000 e que resgata importantes elementos sobre a introdução de computadores em escolas de alguns países da Europa, como França, Suécia e Alemanha (link para acesso ao download do livro).

Segundo os editores, "os estudos de caso destacam diferenças no poder político e econômico, bem como no raciocínio ideológico e nas prioridades estabelecidas por diferentes atores no processo de introdução de computadores na educação. No entanto, as contribuições também demonstram que narrativas simples da Guerra Fria não conseguem capturar as complexas dinâmicas e emaranhamentos na história dos computadores como tecnologia educacional e conteúdos curriculares nas escolas. O volume editado fornece, assim, uma compreensão histórica abrangente do papel da educação em uma sociedade digital emergente".

Um elemento comum identificado pelos autores foi o importante papel desenvolvido pelas associações e redes de docentes entusiastas dos diversos países na Europa, mas também nos EUA, em abrirem o mercado e criarem padrões e justificativas para o uso das tecnologias educacionais na educação e na formação de professores, o que muito facilitou o trabalho de marketing da indústria de computadores. Ao contrário do projeto inicial de que computadores permitiram a individualização da aprendizagem - e os ganhos daí advindos -  os autores argumentam que o motor principal da disseminação estava na crença de computadores como ativos econômicos no contexto da escola. 

Curiosamente, os autores também identificaram uma ruptura na trajetória de desenvolvimento dessa ações com a chegada e a popularização da internet na década de 1990, argumentando que as atividades passadas foram esquecidas em detrimento da urgente necessidade de conectar os computadores à rede digital. Alguns capítulos também analisam o papel das organizações UNESCO e OCDE nesse processo, mas também dos fornecedores locais que disputaram e conquistaram o novo mercado. 

O livro traz à tona também a lembrança de uma obra muito difundida na década de 1990 intitulada Oversold and underused: computers in classroom (link), em que o autor Larry Cuban fazia duras críticas aos altos investimentos na compra de computadores para escolas nos EUA sem um uso apropriado dos equipamentos e com resultados pífios para a melhoria das aulas e da aprendizagem escolar naquele país.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A vertiginosa ascensão e queda da plataforma indiana BYJU's

Artigo recente relata parte da história e sérios percalços recentes enfrentados pela plataforma educacional BYJU's (link para acessar o texto). A empresa, fundada em 2011 por, um casal de educadores indianos, apresentou crescimento espantoso mirando primeiramente o enorme mercado interno da India para treinamento em concursos de admissão semelhantes aos ENEM brasileiro. Posteriormente, ampliou conteúdos e cursos para todos os níveis escolares e ensino superior e para telefones celulares. 


A partir dai passou a construir uma atuação global que incluiu práticas predatórias em uma série milionária de aquisições de outras 17 edtechs na casa dos 300 e 400 milhões de dólares cada, totalizando investimentos de cerca de 5 bilhões de dólares. O agressivo crescimento incluía até a contratação do jogador Lionel Messi para garoto propagada. Planos muito ambiciosos que começaram a naufragar recentemente, quando a agressividade comercial da empresa começou a gerar desconfiança generalizada, o que incluiu a retirada de alguns investidores do Conselho Diretor da empresa e até a invasão da sede da empresa pelo Ministério de Assuntos Corporativos da Índia.  A empresa pode ter sua falência decretada nos EUA e enfrenta investigação criminal na Índia. Um enredo de filme que, de fato, já tem até proposta de nova minissérie para a plataforma Netflix...

Os autores do artigo concluem: "O BYJU's é um lembrete doloroso de que atalhos e farras de gastos não constroem negócios duradouros. A educação é um mercado enorme, mas a integridade ética e o foco no sucesso dos alunos devem continuar a ser princípios orientadores. Esperançosamente, as cinzas da BYJU serão usadas para instruir e fertilizar a próxima geração de líderes de edtech focados na criação de valor real, não apenas no hype".

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Nova análise sobre telefones celulares nas escolas

Estudo recente de pesquisadores britânicos (link para acesso) baseado em um nova análise dos dados do PISA de 2022 (que abrange quase 700 mil estudantes de 81 países) sugere que a proibição de telefones celulares nas escolas leva a um desempenho menor nas pontuações dos alunos nos testes do PISA.  Ao se referirem ao contexto específico do Reino Unido, os pesquisadores concluíram: "No lançamento dos dados do relatório [PISA] de 2022 no Reino Unido, a OCDE, embora um tanto equivocada, apresentou evidências a favor da proibição dos telemóveis, com base em dados de distração dos estudantes. Por outro lado, apresentamos uma conclusão curiosa e contraditória de que, quando o gênero, a classe social e o comportamento escolar são controlados, os alunos em escolas com proibição de telefone têm um desempenho inferior nas pontuações dos testes PISA do que aqueles em escolas que permitem a utilização do telefone".

Diante de tantas variáveis envolvidas no processo de aprendizagem escolar, o resultado não deveria causar tanta surpresa, pois a história das pesquisas sobre tecnologias digitais na escola tem demonstrado impactos de relevância bastante moderada -- seja positiva ou negativa -- nos resultados da aprendizagem dos alunos mensurada por testes padronizados. Mais importante é investigar e compreender o que significa, em termos sociais e políticos, a nova onda de proibição do uso de telefones nas escolas em países diversos, inclusive no Brasil, e que não tem relação direta com a tecnologia digital, mas sim com relações de poder de tom mais conservador e retrógrado, como reforço de disciplina na escola, etc.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Novas publicações sobre inteligência artificial e educação

Acabam de ser publicados materiais importantes na área de inteligência artificial e educação. O livro intitulado Inteligência artificial e educação: refletindo sobre os desafios contemporâneos, organizado pela pesquisadora Lynn Alves, está disponível para acesso gratuito no site da EDUFBA (link). Segundo a editora, "a coletânea não tem intenção de apontar verdades absolutas, mas de provocar em especial educadores a interagir com os aparatos tecnológicos, em especial as IAs destacadas, construindo olhares críticos que vão além de perspectivas tecnofóbicas. Na primeira parte são apresentadas linhas cronológicas para entender o avanço da IA e o marco diferencial com a emergência da Inteligência Artificial Generativa (como ChatGPT 3.5, ChatGPT 4.0, Dall-E e Midjourney), além de serem apontados os riscos e as possibilidades ao interagir com tais aparatos tecnológicos, especialmente no cenário educacional. Já a segunda parte da obra, “Mediação da Inteligência Artificial nas práticas pedagógicas e investigativas”, traz reflexões e práticas de professores e pesquisadores brasileiros e portugueses com a interação dessa tecnologia nos espaços de aprendizagem".

O periódico Computers & Education acaba de publicar artigo intitulado Impact of AI assistance on student agency (link para acesso aberto) em que os autores investigaram o tema e constataram uma perigosa tendência de os alunos se tornarem dependentes da ajuda da IA, ao invés de utilizá-la como processo de aprendizagem. O texto traz uma discussão sobre benefícios, desafios e implicações mais amplos de contar com a assistência da IA ​​em relação à agência dos estudantes.

O resumo do artigo (em tradução automatizada via Google): "As tecnologias de aprendizagem baseadas em IA estão sendo cada vez mais usadas para automatizar e estruturar atividades de aprendizagem (por exemplo, lembretes personalizados para concluir tarefas, feedback automatizado em tempo real para melhorar a redação ou recomendações sobre quando e o que estudar). Embora a visão predominante seja de que estas tecnologias têm geralmente um efeito positivo na aprendizagem dos alunos, o seu impacto na agência dos alunos e na capacidade de auto-regular a sua aprendizagem é pouco explorado. Os alunos aprendem com o feedback regular, detalhado e personalizado fornecido pelos sistemas de IA e continuarão a apresentar um comportamento semelhante na ausência de assistência? Ou, em vez disso, continuam a contar com a assistência da IA ​​sem aprender com ela? Para contribuir para preencher esta lacuna de investigação, conduzimos uma experiência controlada aleatória que explorou o impacto da assistência da IA ​​na agência estudantil no contexto do feedback dos pares. Com 1.625 alunos em 10 cursos, um experimento foi conduzido usando revisão por pares. Durante o período inicial de quatro semanas, os alunos foram guiados por recursos de IA que utilizavam técnicas como detecção de sugestões baseadas em regras, similaridade semântica e comparação com comentários anteriores feitos pelo revisor para aprimorar seus envios caso o feedback fornecido fosse considerado insuficientemente detalhado ou natureza geral. Nas quatro semanas seguintes, os alunos foram divididos em quatro grupos diferentes: o controle (AI) recebeu instruções, (NR) não recebeu instruções, (SR) recebeu listas de verificação de automonitoramento no lugar das instruções da IA ​​e (SAI) teve acesso a ambos. Solicitações de IA e listas de verificação de automonitoramento. Os resultados da experiência sugerem que os alunos tenderam a confiar, em vez de aprender, com a assistência da IA. Se a assistência da IA ​​fosse eliminada, as estratégias auto-reguladas poderiam ajudar a preencher a lacuna, mas não eram tão eficazes como a assistência da IA. Os resultados também mostraram que as abordagens híbridas humano-IA que complementam a assistência da IA ​​com estratégias autorreguladas (SAI) não foram mais eficazes do que a assistência da IA ​​por si só. Concluímos discutindo os benefícios, desafios e implicações mais amplos de contar com a assistência da IA ​​em relação à agência estudantil num mundo onde aprendemos, vivemos e trabalhamos com IA".

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

IA, limites dos detectores de plágio e desafios da avaliação da aprendizagem

Uma publicação recente da empresa norte-americana de tecnologia educacional Anthology (link da versão traduzida para o português) apresenta dados e análises sobre a baixa eficácia e confiança dos programas detectores de plágio para materiais gerados por máquinas de inteligência artificial como o popular ChatGPT e outras. Citando testes realizados e artigos publicados com resultados diversos, os autores concluíram que esses programas não devem ser utilizados para a detecção de plágio em trabalhos acadêmicos e similares devido ao seu baixo índice de acerto. Há também o risco de vieses e distorções desse softwares ao serem utilizados para outras línguas além do inglês.

Segundo os autores do documento, uma das boas alternativas ao problema é a capacitação de professores,  o uso ético da IA, e uma revisão dos processos de avaliação da  aprendizagem em instituições educacionais e cursos formais. O documento sugere a aderência à prática do sistema de "avaliação autêntica": "Na sua forma mais simples, a avaliação autêntica se afasta do conhecimento acumulado para se concentrar na aplicação prática de habilidades, priorizando tarefas complexas em vez de questões binárias de certo e errado e abandonando muitos dos princípios tradicionais da avaliação, como limites de tempo, envios únicos e curvas de notas. Por exemplo, um curso de negócios que busca ensinar habilidades de negociação pode considerar a substituição de uma tarefa de exame tradicional por uma entrevista ao vivo, em que o aluno precisa aplicar a teoria apresentada na aula para alcançar o resultado comercial desejado".

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Publicado novo Dossiê Temático: “Currículo e tecnologias: redes, territórios e diversidades” pela revista e-Curriculum

A revista e-Curriculum, da PUC-SP, acaba de publicar Dossiê Temático: “Currículo e tecnologias: redes, territórios e diversidades” (link) contendo 27 trabalhos de grupos de pesquisadores de diversas universidades brasileiras, sendo 3 deles artigos de caráter teórico,  7 que abordam currículo no nível da Educação Básica e seis textos que versam sobre o ensino superior. Há, ainda, 10 artigos sobre temáticas relacionadas à rede, ambiente virtual, ambiente pessoal  de  aprendizagem, cultura  digital e  temas  correlatos. 

Segundo os editores do Dossiê, "Os artigos deste dossiê oferecem uma ampla visão da diversidade prevalente nos artigos de abordagem teórica ou estudos que tratam de revisão de literatura, construções conceituais, métodos e resultados de investigações, análise de experiências ou de políticas, agrupados em torno  de  temáticas  acerca  de  currículo,  redes e territórios,  com  subgrupos  relacionados  ao contexto  investigado. Há  artigos  que acoplam  dois ou  mais desses  temas e, por  razão  da organização linear do texto, são apresentados no tema considerado mais atinente".

Ao apresentar os conteúdos de todos os artigos publicados no Dossiê, os editores consideram que  os estudos reunidos indicam que "a  integração  das  tecnologias  digitais  de  informação  e  comunicação  nas  práticas educativas, embasada por concepções educacionais emancipatórias, concretiza-se por meio deum processo de apropriação pedagógica dessas tecnologias, de modo a propiciar a superação da  visão  do  instrumentalismo  acrítico.  Contudo,  como  salientado  por  alguns  artigos  deste fascículo, é preciso estar atento ao processo de adoção, algumas vezes imposta, de plataformas, algoritmos,  aplicativos e  recursos sem  criticidade de  modo  a evitar  a  apropriação  do  espaço público  pelo  privado e  a  tecnologização  da  educação. O  humano  deve  preponderar  sobre  a tecnologia e a técnica".


Publicados os anais das conferências da International Society of Learning Sciences 2023

Acabam de ser publicados os Anais das três conferências da International Society of Learning Sciences 2023, realizadas no mês de junho no Canadá com o tema “Building knowledge and sustaining our community”. São eventos de alta qualidade científica-acadêmica no campo da ed-tech e temas associados (link geral). Os Anais principais, da 3rd Annual Meeting of the International Society of the Learning Sciences (ISLS), trazem os trabalhos de palestrantes convidados, workshops, apresentações de pesquisas dos participantes e outras atividades. Destaque para as palestras de Henri Giroux, intitulada “Critical Pedagogy in the Age of Fascist Politics”, e de Jan Hare, “Decolonizing Online Learning Through Indigenous Ways of Knowing”. Destaque também para a sessão especial “The New Generation of AI: Opportunities for Research and the Role of ISLS”.

No caso da 17th International Conference of the Learning Sciences (ICLS), os Anais (link) trazem trabalhos de  44 países, mas 80% eram originários dos EUA e Canadá. As temáticas abrangem diversas temáticas de pesquisas no campo da ed-tech. Segundo os editores: "As apresentações e discussões da conferência ressaltaram a importância de integrar diversos contextos de aprendizagem para enfrentar os desafios e oportunidades num mundo passando por intensa transformação, mergulhando em complexas tramas de processos de aprendizagem, tecnologias, designs, e práticas. Nossa comunidade eclética está explorando temas e métodos que vão desde a aprendizado de máquina com etnografias densas, e está se tornando, a cada ano, mais sintonizado com diferentes epistemologias, visões de mundo e formas de aprender. As contribuições em 2023 refletem essa diversidade, explorando temas como aprendizagem nas disciplinas (ciências, matemática, história, educação cívica, educação maker, ciência da computação eoutros), equidade e justiça, inteligência artificial na educação, cognição incorporada, aprendizagem multimodal, aprendizagem de professores e ambientes de aprendizagem informal".

E a 16th International Conference on Computer-Supported Collaborative Learning (CSCL) 2023 apresenta nos Anais (link) trabalhos em três eixos temáticos: Aprendizagem colaborativa contextualizada, Projetos para aprendizagem colaborativa apoiada por computador e aprimorada por dados e Colaboração como um motor para inovação e mudanças.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Ótimos seminários on-line sobre plataformas digitais, vigilância em rede e fake news

Estão programadas para as próximas semanas e meses duas séries de seminários promovidos por pesquisadores e grupos de pesquisa de universidades da Bahia e de Minas Gerais sobre plataformas digitais, vigilância em rede e fake news. 

O II Colóquio Utopias Tecnopolíticas para o Bem Viver (link) acontecerá, na UFBA, e reunirá pesquisadores de países da América Latina. Haverá painéis temáticos que se iniciam no dia 05 de outubro para debater sobre “Digitalização, apropriação e plataformização”, com a participação de Alex Ojeda Copa (Lab TecnoSocial, Universidad Mayor San Simón, Bolívia), Martin Gendler (Instituto de Investigaciones Gino Germani, Argentina) e Luis Sandoval (Universidad Nacional de la Patagonia San Juan Bosco, Argentina) e tem o apoio do GT Apropriação de Tecnologias Digitais e Interseccionalidades, da CLACSO. 


No ida 04 de outubro acontecerá, na UEMG, o primeiro encontro do Ciclo de Seminários de Altos Estudos em Vigilância em Massa e Fake News (link). O Seminário 1 - Economia política das Big Tech acontecerá a partir das 19 horas e terá como participantes Rodrigo Moreno Marques (UFMG) - Economia política das plataformas digitais; Leonardo Ribeiro da Cruz (UFPA) - Colonialismo digital e governo algorítmico; e Eduardo da Motta e Albuquerque (UFMG) - Economia política da inteligência artificial.  O evento será transmitido no canal Matemática sem Barreiras, no YouTube, e as atividades acontecerão até o mês de dezembro.



sexta-feira, 8 de setembro de 2023

UNESCO publica análise crítica do uso das tecnologias digitais na educação durante a pandemia do COVID-19

A UNESCO acaba de lançar publicação, bastante crítica e necessária, em que apresenta uma análise detalhada dos problemas gerados pelo abrupto e abrangente uso das tecnologias digitais - em grande parte, as de comunicação síncrona e assíncrona - diante da suspensão das aulas presenciais durante a pandemia do COVID-19. O livro intitula-se An ed-tech tragedy? Educational technologies and school closures in the time of COVID-19 (link). 

Na apresentação da obra a UNESCO já indica o tom das análises e da conclusão: "Este livro examina as inúmeras consequências adversas e não intencionais da mudança para a tecnologia educacional. Ele documenta como as soluções tecnológicas deixaram para trás a maioria global dos alunos e detalha as muitas maneiras pelas quais a educação foi precarizada, mesmo quando a tecnologia estava disponível e funcionava conforme planejado". E detalha: "a evidência global revela um quadro mais sombrio. Ele expõe as maneiras pelas quais a dependência educacional sem precedentes da tecnologia muitas vezes resultou em exclusão desenfreada, desigualdade impressionante, danos inadvertidos e popularização de modelos de aprendizagem que colocam as máquinas e o lucro acima das pessoas".

E indica formas para reduzir os danos causados e para avançar nas melhorias necessárias: "Ao desvendar o que deu errado [a obra] extrai lições e recomendações para garantir que a tecnologia facilite, em vez de subverter, os esforços para garantir a oferta universal de educação pública inclusiva, equitativa e centrada no ser humano".

terça-feira, 5 de setembro de 2023

OpenAI, a empresa proprietária do ChatGPT, lança Guia para o uso do produto para professores

OpenAI, a empresa proprietária do ChatGPT, acaba de lançar um Guia para o uso do produto deles na educação (link). Segundo o pesquisador britânico Ben Williamson, o guia foi desenvolvido por um professor da área de marketing. O material traz exemplos bem curtos de usos da tecnologia feitos por professores em diversos países. Um pequeno tutorial contém diretrizes para utilizar o Chat na criação de planos de aula, para criar "explicações eficazes com exemplos e analogias", incentivar o aluno a ensinar o que está aprendendo e criar um tutor de IA. Há também um link para conteúdo adicional no formato de perguntas e respostas com conteúdos específicos para professores. São abordados os temas de plágio estudantil, segurança e veracidade das informações e do produto, preconceitos e distorções gerados pelo uso do Chat, dentre outros. 

Em todo o mundo, e também no Brasil, continuam os esforços para a promoção de sistemas de regulação da IA, com alertas para os riscos de seu uso indiscriminado para a sociedade e os interesses comerciais das empresas que ofertam esses serviços (link).

Na mesma semana do lançamento do Guia, a Organisation for Economic Co-operation and Development  (OCDE) lançou um publicação intitulada Is Education Losing the Race with Technology? AI's Progress in Maths and Reading (link). O estudo relatado prevê que a IA poderá resolver completamente todos os testes de aprendizagem nas áreas de linguagens-letramentos e de matemática até o ano 2026. Segundo o estudo, "estas conclusões têm implicações importantes para o emprego e a educação. Grande parte da força de trabalho utiliza diariamente competências de letramentos e matemática no trabalho, com uma proficiência comparável ou inferior à dos computadores. A IA pode afetar as tarefas relacionadas com os letramentos e a matemática destes trabalhadores. Neste contexto, os sistemas educativos devem reforçar as competências básicas dos estudantes e dos trabalhadores e ensiná-los a trabalhar em conjunto com a IA".

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Pesquisa investiga aprendizagem informal na plataforma TikTok

Artigo publicado na última edição do periódico Computers & Education, intitulado Facilitating knowledge construction in informal learning: A study of TikTok scientific, educational videos (link), investigou a possível construção de conhecimentos associados a 114 vídeos de conteúdos científicos na plataforma e que envolveram também a codificação e análise de 259 mil comentários. Tal construção contempla elementos tais como compartilhar ideias, explorar dissonâncias, negociar, sintetizar e aplicar conhecimento.

O estudo foi conduzido com base nas seguintes questões: Quais são as características dos vídeos científicos e educacionais no TikTok? Quais são os padrões de construção do conhecimento nos comentários dos vídeos? Como as características do vídeo se relacionam com os padrões de construção do conhecimento? 

Segundo os autores, "os classificadores sugerem que os comentários servem predominantemente a propósitos sociais e de não construção de conhecimento, seguidos de compartilhamento de ideias, negociação de entendimento e exploração de dissonância de ideias. Vídeos que focam em conteúdo informativo, aproveitam áudio original e empregam linguagem analítica têm maiores proporções de comentários que compartilham e negociam conhecimento". 

Limitações do estudo incluíram fatores como pequena amostra de vídeos que pode limitar a generalização dos resultados. e a necessidade de combinar análises quantitativas em larga escala (como a nossa) com outras metodologias (por exemplo, entrevistas, pesquisas, etnografia).

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Relatório da Unesco aponta impasses no uso das tecnologias digitais na educação

Nova publicação da Unesco, intitulada "Relatório de monitoramento global da educação, resumo, 2023: A tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?" (link), aponta diversos elementos importantes para se compreender avanços e dilemas existentes após algumas décadas do uso das tecnologias digitais a fim de aprimoramento do ensino e da aprendizagem escolar.  As principais conclusões foram apresentadas em 6 tópicos temáticos, destacando-se: 

  • Evidências sólidas e imparciais do impacto da tecnologia educacional são escassas. Boa parte das evidências são produzidas pelos que estão tentando vendê-las; 
  • A tecnologia pode ser uma salvação para a educação de milhões, mas exclui muito mais pessoas. Em todo o mundo, apenas 40% das escolas primárias, 50% das escolas de primeiro nível da educação secundária estão conectadas à internet; 
  • Algumas tecnologias educacionais podem melhorar alguns tipos de aprendizagem em alguns contextos. A tecnologia digital aumentou de forma dramática o acesso a recursos de ensino e aprendizagem, mas teve efeitos positivos baixos a moderados em alguns tipos de aprendizagem;
  • O conteúdo online aumentou sem que houvesse regulamentação suficiente de controle de qualidade ou diversidade. O conteúdo digital é produzido por grupos dominantes, o que afeta quem o acessa;
  • Compra-se tecnologia, muitas vezes, para “tapar um buraco”, sem olhar para os custos no longo prazo.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Seminário ChatGPT: Potencial, Limites e Implicações para a Universidade na USP

Estão disponíveis os vídeos completos do seminário ChatGPT: Potencial, Limites e Implicações para a Universidade, realizado recentemente pelos Instituto de Estudos Avançados da USP, enfocando os últimos desenvolvimentos da Inteligência Artificial Generativa. 

O evento teve diversas palestras de pesquisadores e debates sobre os sistemas de IA no presente e implicações dessas tecnologias para a universidade, em particular o ensino universitário de graduação e de pós-graduação, a produção acadêmica e as condutas éticas decorrentes de seus usos.  Links: Parte 1 e Parte 2.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Uso de aplicativos de mensagens na aprendizagem em países em desenvolvimento

O periódico Technology, Pedagogy and Education acaba de publicar artigo intitulado "Como aplicativos de mensagens, WhatsApp e SMS podem ser usados ​​para apoiar o aprendizado? Uma revisão de escopo" (link) enfocando experiências em ditos países em desenvolvimento (Brasil e nações dos continentes da África e Ásia). Segundo a autora britânica, foram identificados 43 artigos para inclusão e surgiram três áreas temáticas principais: apoio à aprendizagem do aluno (incluindo interação com colegas e outros alunos, tutoria entre pares e aprendizagem colaborativa; e interação com professores, por meio de entrega de conteúdo, ensino e avaliação); formação de professores (incluindo suporte e sugestões estruturadas e comunidades informais de prática); e apoio à educação de refugiados. 

O estudo da pesquisadora apresentou as seguintes conclusões: "Os artigos revisados ​​sugerem que o uso de mensagens pode ter efeitos positivos para a educação em países de baixa e média renda [...] Os impactos e efeitos de longo prazo sobre os resultados da aprendizagem raramente são considerados. [...] Ao focar em pesquisas acadêmicas publicadas, a revisão não se baseia em projetos que estão em andamento e ainda não tiveram resultados publicados. Dada a mudança para educação remota e a distância necessária pela pandemia, é provável que mais pesquisas sobre esse tópico sejam publicadas no futuro. Embora todos os estudos aqui sugiram que o uso de mensagens tem um bom potencial para promover uma série de resultados positivos para a educação em países de baixa e média renda e em tempos de crise, tanto para alunos quanto para professores, são necessárias mais evidências robustas para levar os princípios demonstrados em projetos de pequena escala estudos a programas maiores em escala".

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Cenário e tendências do ensino superior e da aprendizagem 2023

Foi publicado no início deste mês o 2023 EDUCAUSE Horizon Report, Teaching and Learning Edition (link), patrocinado pelas empresas AT&T e Zoom. O detalhado relatório, que tem boa acolhida entre pesquisadores de ed-tech e se baseia em diversas evidências empíricas, lista tendências sociais, econômicas, tecnológicas, cenários e implicações sobre acontecimentos centrais na área de estudos do ensino superior.  

Entre as principais tendências sociais e tecnológicas, destacam-se:

  • A demanda dos alunos por modalidades de aprendizado flexível e conveniente está aumentando.

• O foco no ensino e aprendizagem equitativos e inclusivos se expandiu e se intensificou.

• Os programas de microcredenciais estão ganhando força e maturidade.

O potencial para a IA se tornar popular está crescendo.

• A dicotomia online versus presencial está sendo interrompido.

• Tecnologias de baixo e nenhum código que simplificam processos estão permitindo que mais pessoas criem conteúdo.

No que se refere mais especificamente às tecnologias e práticas a elas relacionadas, o relatório destaca:

  • Aplicativos habilitados para IA focados no aprendizado preditivo e pessoal

• IA generativa

• Diluição dos limites entre as modalidades de aprendizagem

• HyFlex: alunos matriculados em um curso podem participar de forma presencial, síncrona online ou assíncrona online, conforme sua preferência.

• Microcredenciais

• Apoiar o sentimento de pertença e conexão social dos alunos.

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Revisão de artigos sobre IA (ChatGPT) e Educação

Acaba de ser publicado artigo resultado de uma revisão de literatura, ainda incipiente com 50 artigos, sobre impactos da IA (ChatGPT) na educação. O artigo traz conclusões gerais e já debatidas entre educadores de modo geral, mas é válido pelo mapeamento realizado e pelas fontes  apresentadas. Intitulado What Is the Impact of ChatGPT on Education? A Rapid Review of the Literature (link) é de autoria do Chanf Kwan Lo, pesquisador de Hong Kong. O artigo integra edição temática do periódico intitulada Teaching and Learning in the Era of AI Conversation Chatbots: Opportunities and Challenges.

Para fins de aprendizagem, os artigos indicaram usos para responder perguntas, resumir conteúdos e facilitar a colaboração entre alunos. Para fins de avaliação da aprendizagem, artigos analisados citaram aspectos de verificação de conceitos e preparação pra exames e para gerar feedback. Segundo o autor, "o ChatGPT tem o potencial de melhorar o ensino e a aprendizagem. No entanto, seu conhecimento e desempenho não foram totalmente satisfatórios em todos os domínios de assunto. O uso do ChatGPT também apresenta vários problemas potenciais, como geração de informações incorretas ou falsas e plágio de alunos, podendo não ser detectados por sistemas de verificação".

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Familiaridade com tecnologias digitais pode não ser fator central para a boa aprendizagem

Artigo de um grupo de pesquisadores alemães que acaba de ser publicado pela revista Computers & Education (link) apresenta alguns dados que permitem indagar - sem concluir de forma definitiva -  o papel da familiaridade com tecnologias digitais para a ocorrência de boa aprendizagem. Segundo os pesquisadores, "a familiaridade com a tecnologia refere-se ao nível de conhecimento e experiência que alunos e professores têm com várias formas de tecnologia, como tablets ou software educacional. Inclui a capacidade de usar essas ferramentas para fins acadêmicos e entender como integrá-las à instrução e ao aprendizado. A familiaridade com a tecnologia provavelmente está relacionada à infraestrutura digital das escolas, pois alunos e professores só podem adquirir experiência e conhecimento da tecnologia para fins acadêmicos se a tecnologia estiver disponível para o ensino". 

O estudo utilizou dados de professores e de questionários com 729 alunos do nono ano escolar, em aulas de matemática e de alemão, sobre a experiência do ensino remoto emergencial. Os participantes já utilizavam tablets na escola um ano antes da implantação emergencial do ensino remoto gerado pela pandemia do Covid-19 - ou seja, os pesquisadores consideram que eles já possuíam familiaridade com a tecnologia, no caso, os tablets e atividades neles desenvolvidas. 

A pesquisa investigou dois outros elementos da aprendizagem no referido sistema emergencial: como as atividades de aprendizado ao usar as tecnologias remotas estavam relacionadas ao esforço dos alunos em aprender em duas disciplinas e se a "ativação cognitiva" percebida pelo aluno mediava essa relação.

Os resultados do estudo indicaram que: "a familiaridade dos alunos e professores com o uso da tecnologia (ou seja, tablets) no ensino presencial antes do fechamento das escolas devido à COVID-19 não foi relacionada às atividades de aprendizagem instruídas, à qualidade percebida do ensino ou ao esforço de aprendizagem dos alunos. Uma explicação pode ser que apenas equipar professores e alunos com dispositivos digitais pode não ajudar suficientemente a prepará-los para a implementação de ensino e aprendizagem digital a distância de alta qualidade. A familiaridade com a tecnologia foi geralmente considerada importante para os professores. No entanto, estudos de ensino presencial sugerem que, por exemplo, o conhecimento profissional sobre o ensino e a experiência pedagógica (Lachner, Backfisch, & Stürmer, 2019) ou as crenças de utilidade relacionadas à tecnologia dos professores (Backfisch, Lachner, Stürmer, & Scheiter , 2021) também desempenham um papel crucial no ensino aprimorado por tecnologia. Assim, nossos resultados podem mostrar que não basta estar familiarizado com as ferramentas tecnológicas, mas é preciso entender o valor agregado da tecnologia para melhorar a pedagogia na sala de aula virtual – como o ensino presencial".

Em linhas gerais, os pesquisadores concluíram que o "esforço" (medido como "ativação cognitiva" percebida pelos alunos) teve papel bastante relevante da aprendizagem. Isso ocorreu em detrimento da mencionada familiaridade com a tecnologia digital, o que levou os pesquisadores e reduzirem a importância desse aspecto na ocorrência de boa aprendizagem. É importante ressaltar, porém, que a análise apresentada se deteve apenas sobre o uso dos tablets, deixando de contemplar, assim, todas as vivência de alunos alemães do nono ano com diversas outras tecnologias digitais dentro e fora da escola e que provavelmente têm papel importante em todos os processos de aprendizagem deles, podendo interferir com o elemento da ativação cognitiva mensurado na pesquisa.

segunda-feira, 27 de março de 2023

Novos letramentos para a Inteligência Artificial (IA)

Em 2022, o periódico Computers & Education publicou edição temática sobre Inteligência Artificial no campo da edtech (link). Dentre os artigos publicados, pesquisadores alemães mapearam e detalharam estudos - ainda incipientes - na área dos letramentos relacionados à Inteligência Artificial (AI), com foco no ensino superior. Intitulado "Artificial intelligence literacy in higher and adult education: A scoping literature review" (link) o artigo utiliza a conceituação de Long e Magerko (2020), que definem letramentos para IA como “um conjunto de competências que permite aos indivíduos avaliar criticamente as tecnologias de IA, comunicar e colaborar de forma eficaz com a IA e usar a IA como uma ferramenta online, em casa e no ambiente de trabalho". Essa conceituação prevaleceu dentre os artigos analisados no estudo, que considerou que o termo ainda precisa ser melhor definido. 

O artigo cita alguns projetos na área em escolas do ensino básico e superior, vistos pelos autores como bastante heterogêneos e em fase inicial de desenvolvimento,  e apresenta resultados da análise de 30 artigos publicados na temática. Dentro as diversas conclusões apresentadas, destaca-se a afirmação dos autores de que "programas educacionais adequados devem ser disponibilizados para aproveitar a tecnologia de IA (Yi, 2021). A revisão dos cursos destinados a promover letramentos em IA em estudantes e adultos do ensino superior revelou que uma combinação de transferência de conhecimento e unidades práticas parece funcionar bem no ensino de competências de IA. No entanto, metade dos cursos analisados ​​parece utilizar exercícios de programação, o que vai contra o pressuposto de Long e Magerko (2020) ou Ng et al. (2021b) que letramentos em IA não é sobre programação em si, mas sobre a compreensão dos conceitos de IA". 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Novo dossiê temático Aprendendo-ensinando por meio da conversação online

Acaba de ser publicado dossiê temático da revista Periferia (UERJ) intitulado Aprendendo-ensinando por meio da conversação online (link) em que consta artigo de autoria de integrantes do Grupo LER-CNPq. O artigo DIÁLOGOS EM FLUXO EM FÓRUNS GENERALISTAS DA INTERNET: ações de trocas e aprendizagens em redes sociotécnicas”, de autoria de Eduardo Santos Junqueira (Professor Associado da Universidade Federal do Ceará) e Mateus Marques Aquino (Bacharelando do curso de Sistemas e Mídias Digitais e bolsista de Iniciação Científica da UFC)  "apresenta um estudo sobre um fórum na plataforma Reddit que buscou compreender a natureza comunicacional das mensagens dos usuários, e saber as opiniões acerca de suas ações naquele contexto. Concluem que a aprendizagem se configura na obtenção de novos conhecimentos pelas/os usuárias/os no contexto das trocas realizadas no fórum, resultando em uma reconstrução de sentidos e de significados acerca dos fatos abordados pelos sujeitos participantes". 

O dossiê, organizado pelos pesquisadores Felipe Carvalho (UERJ / UFRRJ), Mariano Pimentel (UNIRIO) e Edméa Santos (UFRRJ)  traz diversos outros artigos de interesse sobre diálogos colaborativos durante a pandemia, educação 4.0, rodas de conversa online com professores, etc. No editorial, os organizadores afirmam: "consideramos a conversação online fundamental para a produção do conhecimento em tempo de cibercultura. Como efetiva-la em múltiplos contextos formativos e modalidades (EAD, ensino remoto, educação híbrida, educação presencial)? Com que intencionalidade? Que métodos/dinâmicas conversacionais empregar? Por quais meios? Como avaliar seus efeitosNeste dossiê, trazemos discussões sobre a conversação online a partir de diferentes pontos de vista, de múltiplos pressupostos teórico-epistemológicos de diversas áreas do conhecimento".

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Focando em recursos das tecnologias que realmente potencializam o aprendizado

Em artigo recente (link), o pesquisador David Wiley utiliza o exemplo da interface de aprendizagem de línguas Duolingo para demonstrar a centralidade do que chama de "nudge" no uso das tecnologias educacionais por professores e, em particular, por alunos. Nudge se refere ao recurso do software educacional que convence o usuário a realmente usar os recursos que melhorarão o aprendizado.

O autor argumenta que "na maioria das vezes, alunos e professores tentarão usar as tecnologias educacionais como se fossem livros didáticos – procurando e atendendo quase que exclusivamente a palavras e imagens estáticas – se as usarem". No que se refere às funcionalidades do Duolingo relacionadas ao nudge, Wiley destaca a intensa atividade do personagem mascote do Duolingo (uma corujinha) em comunicar aos alunos a oportunidade da prática da repetição de exercícios para corrigir erros da aprendizagem, pois constatou-se que o mesmo reduz em até 45% os erros dos alunos. O autor apresenta dados para demonstrar que essa ação é mais efetiva do que o envio de e-mails pelo sistema ou mesmo do que as tradicionais, e por vezes incômodas, notificações.

Wiley ressalta que: "Pode-se argumentar cinicamente que o Duolingo simplesmente quer maximizar o engajamento para ganhar dinheiro e não para aumentar o aprendizado. Mas é o seguinte – quando uma tecnologia educacional é construída sobre uma base de pesquisa de aprendizado sólida, como o Duolingo, esses dois interesses realmente se alinham – aumentar o envolvimento do usuário aumentará simultaneamente o aprendizado E aumentará as receitas da empresa. Fazer com que mais pessoas se envolvam com mais frequência em práticas de ensino e aprendizagem mais eficazes é bom tanto para o aprendizado quanto para o resultado final".

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Novas teorias para espaços digitais de aprendizagem

O pesquisador canadense Stephen Downes acaba de publicar artigo intitulado Newer Theories for Digital Learning Spaces (link).  Na primeira parte do trabalho o autor apresenta uma ótima revisão das teorias clássicas e contemporâneas da aprendizagem, apontando algumas lacunas e refletindo sobre limites dessas proposições e sua ênfase em processos cognitivos e a centralidade no conhecimento. Na segunda parte do trabalho, identifica algumas teorias emergentes, incluindo pedagogia conectivista (desenvolvida por Downes e outros pesquisadores), ambientes de aprendizagem pessoal e práticas educacionais abertas, caracterizando-as e buscando relacioná-las com as lacunas e reflexões sobre as teorias apresentadas na primeira parte do trabalho. Por fim, o autor discute a própria natureza de uma teoria situada no campo da aprendizagem em torno do que argumenta serem os dois novos elementos da "geração (ou criação de conteúdo) e deontologia (identificação de qual pode ser a melhor, ou desejada, opção [ao se aprender algo])".


terça-feira, 9 de agosto de 2022

Escolhendo as melhores ferramentas para a aprendizagem de 2022

A exemplo do que acontece desde o ano de 2007, a pesquisadora Jane Hart organiza uma votação on-line, voltada a pesquisadores e praticantes da área, para a escolha das melhores ferramentas digitais (ou artefatos, interfaces...) para a aprendizagem no ano. Ela é a fundadora do Centre for Learning & Performance Technologies (C4LPT). Cada participante pode indicar 10 ferramentas preferidas e justificar cada escolha, o que gera uma compilado de centenas das mais votadas todo ano (vejam as de 2021 no link). A votação atual ocorre através dessa página (link). 

Alguns pesquisadores aproveitaram e já publicaram uma lista com suas 10 escolhas enquanto o resultado final, previsto para o final do mês, não sai. Paulo Camelo, doutorando pelo PPGE-UFC e integrante do Grupo LER, elegeu as seguintes:
Inoreader, Feedbin, Zotero, Raindrop, Dynalist, Journalistic, Google Docs, Readwise, Upnote (não é a Edtech, mas o aplicativo de notas!) e YouTube. E detalhou: "Journalistic é um serviço para escrever diários. Eu adaptei para diário de campo, recomendo para quem quer ou trocou o velho caderno por uma opção digital. Depois de alguns dias, ele é capaz de dar um panorama, mostrar algumas reflexões e estatísticas sobre pessoas ou tags. Mas é assim, esse serviço, como muitos do que sugeri são ávidos por dados, então é usar sabendo que tem um limiar perigoso nesse campo. O Journalistic, por exemplo, tem,um projeto paralelo de coleta de dados para IA muito audacioso, então eu "desconfio" que há um uso dos dados para o desenvolvimento dessa outra ferramenta". 
Stephen Downes, do Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá,  destacou o que aprece ser a liderança atual da interface Feedly, utilizada principalmente para agregar conteúdos selecionados da web, através de um leitor de RSS, e apresentá-los em um formato amigável e com bom design. Destaque também para a rede social descentralizada Mastodon que, segundo ele, permite trocas muito positivas com grupos temáticos sem se estar sujeito a práticas dos algoritmos de redes como Facebook e Twitter. Mike Taylor, pesquisador e consultor da área, também destaca o Feedly (com a adição de Buffer, Kill de Newsletter e FetchRSS) e adiciona o Bublup, uma extensão para o Chrome que funciona como um gerenciador de Favoritos e que inclui funcionalidades, além dos links, de compartilhamento de notas e arquivos. Em ambas as listas aparecerem também interfaces bem tradicionais como o Firefox (e diversos plugins), Twitter, Google Docs, Wordpress, etc.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Tecnologias digitais e transformações no ensino superior

Um relatório publicado pela empresa de consultoria mercadológica McKinsey, baseado em pesquisa com centenas de professores e alunos de universidades dos EUA (incluindo representações de minorias) em 2021, indicou o interesse deles em continuarem a utilizar tecnologias digitais empregadas durante a pandemia da Covid-19, em contraste com o que chamam de falta de apoio institucional para que isso se estabeleça naquele país (link). 

Foram pesquisadas oito tecnologias digitais utilizadas para a aprendizagem, como aquelas dedicadas ao monitoramento do progresso dos alunos, de exercícios voltados à aprendizagem, aos trabalhos em grupo, de realidade virtual, de comunidades virtuais, etc.. Todas foram vistas de forma positiva pelos alunos e cujo uso por eles mais do que dobrou no intervalo da pandemia, destacando-se o caráter de entretenimento e de "eficiência" percebidos pelos usuários. 

O mesmo movimento de forte adoção das tecnologias foi percebido entre professores, mas o relatório aponta a necessidade de mais treinamento para os docentes. No âmbito das universidades, o relatório afirma que a principal causa da baixa institucionalização das tecnologias digitais na aprendizagem é a falta de conhecimento dos gestores. Trata-se de um mercado emergente e que envolve gastos de bilhões de dólares com essas tecnologias educacionais.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

As tecnologias digitais em rede e a (falta de) privacidade das crianças

Relatório recente da Human Rights Watch intitulado How dare they peep into my private life (Como eles se atrevem a espiar minha vida privada) (link) revelou enorme desrespeito à privacidade dos usuários como um mecanismo intrínseco ao funcionamento de diversas plataformas educacionais. A entidade analisou 164 interfaces educacionais utilizadas em 49 países, inclusive no Brasil, durante a pandemia da Covid-19 e recomendadas por governos locais para professores, pais e alunos e constatou que 89% delas (146) "parecem se envolver em práticas de dados que colocam os direitos das crianças em risco, contribuem para prejudicá-los ou violam ativamente esses direitos".

Segundo o relatório, as práticas envolvem ações bastante graves, até mesmo fora da escola e mesmo nos casos em que professores e pais pudessem estar cientes dos riscos e tentassem ajustar as funcionalidades da interface: "A maioria das plataformas de aprendizado on-line instalou tecnologias de rastreamento que acompanharam as crianças fora de suas salas de aula virtuais e pela Internet ao longo do tempo. Algumas crianças invisivelmente marcavam e imprimiam as impressões digitais de maneiras impossíveis de evitar ou se livrar – mesmo que as crianças, seus pais e professores estivessem cientes e tivessem o desejo e a alfabetização digital de fazê-lo – sem jogar o dispositivo no lixo". 

Uma das metas é gerar e vender dados das crianças para empresas da área de propaganda, visando ações de marketing digital e outras, detalha o relatório:  "A maioria das plataformas de aprendizado online enviou ou concedeu acesso a dados de crianças para empresas terceirizadas, geralmente empresas de tecnologia de publicidade (AdTech). Ao fazer isso, eles parecem ter permitido aos algoritmos sofisticados das empresas AdTech a oportunidade de unir e analisar esses dados para prever as características e interesses pessoais de uma criança e prever o que ela pode fazer em seguida e como ela pode ser influenciada".