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sexta-feira, 9 de maio de 2025

Críticas ao avanço da IA nas escolas e universidades

Se no Brasil um dos destaques no campo dos estudos da Inteligência Artificial foi o lançamento de um relatório sobre o uso da IA nas universidades intitulado "IA e Ensino Público Superior no Brasil Recomendações para políticas institucionais de governança" (link), fora daqui alguns pesquisadores repercutiram duas publicações importantes de colegas da área e que servem de contraponto ao que parece ser a naturalização da IA na educação formal. 

Primeiro, o pesquisador James O'Sullivan publicou um ensaio provocador em sua página no Substack questionando se não seria o caso de as universidades serem iletradas em IA (link). Com isso, o autor quis chamar a atenção à falta de críticas à incorporação dessas tecnologias na universidade e o papel dessas instituições em atuarem como um espaço para crítica e reflexão sobre o fenomeno. Eles escreveu: "O ensino superior há muito se orgulha de resistir às demandas do imediatismo. Não produzimos estudos na velocidade da tendência; deliberamos, criticamos, contextualizamos. Se aceitarmos esse ethos, então certamente uma das posições mais valiosas que um acadêmico pode ocupar é a de desinteresse deliberado - uma recusa epistêmica de naturalizar o determinismo tecnológico. Não adotar imediatamente a linguagem de tokens e transformers é preservar um espaço no qual o significado, a metáfora e a crítica humanística ainda podem importar".


Por usa vez, o pesquisador britânico Ben Williamson citou O'Sullivan e avançou em outra direção em postagem no seu blog (link). A preparação da OCDE para que o seu exame PISA passe a medir as habilidades dos alunos com a IA e o seu alerta para o fato de que isso possa acelerar as ações de escolas e de educadores em todo o mundo para treinar seus alunos na perspectiva do desenvolvimento das ditas melhores habilidades no uso da tecnologia (na linha de como escrever os melhores prompts e como checar a acurácia das informações gerada pelos sistemas dito inteligentes). Williamson escreveu: "A OCDE não é um ator neutro quando se trata de IA – há vários anos promove o uso da IA na educação e produz regularmente declarações históricas sobre seus efeitos transformadores. Grande parte de sua ênfase está nos efeitos da IA na economia e, portanto, na manutenção da produtividade e do progresso econômico por meio da qualificação tecnológica. Agora, por meio do teste de alfabetização em IA, está exercendo sua autoridade política sobre como as habilidades de IA devem ser definidas e valorizadas".


segunda-feira, 30 de maio de 2022

O modelo e o avanço global das plataformas educacionais

Em recente editorial do periódico britânico Learning, Media and Technology, o pesquisador Ben Williamson destaca o caso da plataforma educacional indiana BYJU'S, focada no ensino de programação para crianças, que será uma das co-patrocinadoras da próxima Copa do Mundo de Futebol ao lado de Adidas, Visa e outros (link). 

Williamson apresenta e analisa o modelo de negócios da empresa (avaliada em cerca de 22 bilhões de dólares e com 115 milhões de alunos registrados) e seu modo operacional com base em parte no que chama de "data rent" (aluguel de dados). Segundo o autor, "a extração de big data está no centro do modelo de negócios da Big Tech, possibilitada por arranjos legais que tratam os dados como propriedade intelectual que as empresas possuem, controlam e podem reutilizar indefinidamente". Williamson afirma que a empresa "está investindo em big data e IA como caminho para a criação de valor; está se posicionando como uma empresa de tecnologia experimental e inovadora com um 'laboratório' como aqueles onde as grandes empresas de tecnologia incubam produtos inovadores; e está claramente no negócio de extrair aluguel de dados de seus milhões crescentes de usuários como base para a criação desses serviços e produtos que agregam valor".



segunda-feira, 25 de maio de 2020

Quatro problemáticas das tecnologias digitais e da educação a distância no contexto emergencial do Covid-19


Em excelente editorial do periódico Learning, Media and Technology de 21 de maio,  os editores britânicos Ben Williamson, Rebecca Eynon e John Potter elaboram 4 problemáticas das tecnologias digitais e da educação a distância no contexto emergencial do coronavírus: a economia política da pedagogia da pandemia, as desigualdades digitais, os novos espaços-tempos e hierarquias da pedagogia e as experimentações emergentes com as tecnologias educacionais. Os pesquisadores alertam para o fato de que "política pandêmica agora está se desenrolando através de tentativas de incorporar sistemas e práticas de educação pública, em âmbito internacional, em sistemas tecnológicos cada vez mais poderosos" e incentivam renovadas pesquisam que examinem essas práticas e seus efeitos" e alertam para a necessidade do exame detalhado e cuidadoso dos efeitos e consequências dessas práticas. O artigo completo está disponível neste link.


Ao analisarem as quatro problemáticas, os editores se baseiam em alguns estudos prévios e alertam para o forte caráter de oportunidade de negócios que a indústria das tecnologias educacionais tem imprimido ao período da pandemia e para a necessidade de sérios cuidados diante da expansão de sistemas nacionais de educação pública para essas plataformas comerciais online adentrando as casas dos estudantes com destaque a organismos internacionais como Unesco e Banco mundial nesse cenário em rápida transformação e disputas entre EUA e china também neste cenário. Alertam também para a fragilidade da retórica entorno dos nativos digitais e das muitas dificuldades de jovens em se manterem aptos da fazerem bom uso das tecnologias digitais para a aprendizagem, levantando a pergunta sobre o nível adequado de acesso digital e como jovens e famílias podem receber o suporte necessário para estudar em casa de forma sustentável e duradoura e os riscos imprevisíveis gerados pela ampliação do acesso.
Ao ratarem da terceira problemática citada, cunham o termo Bring Your Own School Home (BYOSH) (algo como: traga sua própria escola para casa) alertando para as múltiplas e exaustivas interferências com rotinas domésticas e familiares daí advindas da polissincrona aprendizagem remota e potencial sobrecarga cognitiva de professores, alunos e pais. Apontam para a terceira via do que nomeiam "Tecnologias de convívio".  "Aqui, poderíamos invocar a noção de práticas que remetem ao poder, em que a direção do fluxo não se trata de "conteúdo" sendo entregue a jusante pelo algoritmo, mas de espaços mais abertos, agentes e produtivos para alunos e educadores", afirmam os editores. No que se refere à última problemática, a da experimentação atual com tecnologias educacionais no universo de 1,5 bilhões de estudantes do planeta, apontam para o surgimento de grandes bases de dados sobre eficácia dessas tecnologias e os ricos de precarização do trabalho dos educadores, acentuando o fortalecimento das práticas de dataficação e massificação, através da significativa ampliação dos usos das tecnologias em rede, na área educacional. "À medida que milhões de estudantes se inscrevem em novas plataformas para poder acessar a educação durante a pandemia, é necessário trazer de volta ao foco as preocupações de longa data sobre privacidade de dados e o uso de dados para caracterização e controle dos alunos", concluem.