terça-feira, 30 de junho de 2020

Artigo analisa o uso de inteligência artificial em fóruns assíncronos

Artigo do tipo relato de campo publicado por pesquisadores da North Texas University, em conferência da EDEN, European Distante and E-Learning Network, promove debate e reflexões sobre o polêmico e muito recente uso de inteligência artificial em atividades de aprendizagem online, O estudo se baseou em IA integrada em uma disciplina de biologia do primeiro semestre da universidade (link para o artigo). Importante salientar que esse uso não pode levar à substituição de professores e nem à precarização das atividades docentes.

Como relatado no artigo, os pesquisadores "...investigaram o impacto de uma plataforma de discussão baseada na IA, Packback, no aprendizado dos alunos e no fluxo de trabalho do professor em cursos on-line. O Packback aborda as discussões on-line usando um protocolo baseado no método socrático de questionar, atribuir aos alunos uma 'pontuação de curiosidade' e criar um boletim informativo de postagens em destaque. Inclui moderação automatizada de postagens inapropriadas. A IA, com base no comprimento das postagens, na estrutura da sentença e na presença de uma citação de fonte, entre outras variáveis, calcula as notas de classificação e curiosidade/interesse. A plataforma possui outros recursos que imitam um local de rede social e gamificam a experiência"(tradução livre).  Ainda segundo os autores, "como a IA classifica e modera as postagens, os professores podem se concentrar em interações mais significativas com os alunos, como fornecer elogios públicos ou feedback particular/individualizado. Isso ajuda a estabelecer um senso de presença no ensino".

Dados foram coletados com apenas 3 tutores de atuaram na disciplina ofertada nessa sistemática e que relataram sobre impactos mas também ambiguidades da IA. Um ponto levantado pelos tutores foi a necessidade de saber melhor como o IA calcula as notas atribuídas às postagens e se elas incluem também o feedback dos tutores publicados no fórum, caracterizando assim o elemento de "ambiguidade" nomeado pelos pesquisadores -- forma de cálculo das notas, estrutura das postagens na plataforma, dentre outros. 

Os autores identificaram elementos de incerteza mas também de curiosidade dos tutores sobre o funcionamento e uso da IA e também concluíram que: "os tutores enfrentaram o desafio de aprender uma nova tecnologia, entender como a IA funcionava e descobrir como melhor complementá-la com a intervenção humana, com interrupções mínimas na aprendizagem dos alunos ... Pesquisas adicionais estão em andamento e a equipe de pesquisa está entrevistando mais alunos e educadores ... para aumentar a validade dessas tendências ou identificar outros padrões emergentes nas disciplinas".

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Novo e-book reúne relatos de campo das práticas de educadores durante a pandemia

Acaba de ser disponibilizada pela AACE-Association for the Advancement of Computing in Education uma coleta de curtos relatos de campo de autores-educadores sobre experiências vivenciadas na transição emergencial do modelo presencial para o remoto online (link para download gratuito) nos EUA em particular. Teaching, Technology, and Teacher Education During the COVID-19 Pandemic: Stories from the Field é uma obra bastante robusta, com 133 relatos em mais de 600 páginas, e está divida nos tópicos:

  • Estratégias pedagógicas online; 
  • Comunidade e colaboração; 
  • Experiências alternativas de campo na formação inicial de professores; 
  • Métodos e Pedagogia de Formação Inicial de Professores; 
  • Desenvolvimento profissional de educadores da educação básica; 
  • Ferramentas digitais;
  • Questões de Equidade. 


Todos os capítulos contém, além da Introdução, os tópicos: Inovação (da prática emergencial relatada), Resultados, Implicações, Pesquisas futuras, Referências e Apêndices. O livro é resultado do grande número de relatos submetidos para a chamada de artigos de edição temática já publicada pelo Journal of Technology and Teacher Education (link). Foram recebidos mais de 200 trabalhos e um novo processo de revisão originou a coletânea lançada agora em formato de e-book.

Segundo os editores, "por meio da edição especial e deste livro, adotamos um rápido 'modelo médico' de ir de uma 'solicitação de trabalhos' à publicação de uma edição especial em cerca de seis semanas e a um livro em cerca de oito semanas. Este foi realmente um experimento para nós, como editores e para muitos no campo que estavam escrevendo para nós, revisando para nós ou apenas observando o que estávamos fazendo. Acreditamos que esse modelo acelerado tem mérito e deve ser considerado para futuras publicações. Isso seria particularmente verdadeiro durante eventos que requerem resposta imediata (por exemplo, uma pandemia)".

terça-feira, 16 de junho de 2020

Erros comuns no ensino online e práticas mais adequadas às redes digitais

Uma das maiores dificuldades da transição do presencial para o online está no fato de que o contexto das redes sociais digitais, da internet, é muito diferente da sala de aula presencial, particularmente no que se refere à sociabilidade horizontal das redes em contraste com a autoridade e centralidade do professor. Não há soluções fáceis nem rápidas para esse dilema, mas cito um relato de pesquisa com adultos que nos ajuda a compreendê-lo um pouco mais para buscar práticas mais adequadas.

O artigo intitulado Learning in Social Networks: Rationale and Ideas for Its Implementation in Higher Education (Aprendizagem nas redes sociais: justificativa e idéias para sua implementação no ensino superior) (link) das pesquisadoras Ibis M. Alvarez e Marialexa Olivera-Smith, relata estudo estudo de 2013 mas que se mantém bastante atual. Elas investigaram processos informais de aprendizagem nas redes sociais digitais para discutir e refletir sobre dilemas da aprendizagem formal online. Segundo as autoras, processos informais de aprendizagem nas redes sociais resultam de múltiplas conexões e trocas entre participantes, que assumem tanto o papel de professor quanto de aprendizes, diferente da tradicional hierarquia de saberes da educação formal.
As pesquisadoras afirmam que "uma das questões mais delicadas sobre o uso das redes sociais no ensino superior é que atraem estudantes justamente porque não são controlados institucionalmente como AVAs, o que a maioria das universidades implementa com um único objetivo (a saber, o aprendizado)". Diante dessa constatação, no que se refere ao papel do professor nas redes, elas sugerem:

  • Permitir que o grupo seja emergente em sua aprendizagem.
  • Permitir que os participantes busquem seus próprios ritmos e formas de trabalhar juntos.
  • Acompanhar atentamente o grupo, sem interferir, mas estando pronto para ajudar.
  • Usar organizadores avançados para criar uma estrutura pedagógica para os participantes usarem quando estiverem prontos.
  • Criar ações de "andaimes" (scaffolding) específicos em contextos específicos.
E propõem, ainda:
  • A promoção de trabalho colaborativo ao invés de práticas de disseminação de informações.
  • A introdução da auto-regulação da aprendizagem ao invés de trabalho dirigido pelo professor. 
  • Contribuir para o desenvolvimento de um senso de comunidade. 
  • Acomodar diferenças individuais.
  • Estabelecer práticas de avaliação conectadas com tarefas típicas das redes digitais. 


segunda-feira, 15 de junho de 2020

IP.TV, usada por milhões na rede pública de ensino, tem ligações com bolsonaristas, revela The Intercept

Reportagem do site de notícias The Intercept (link) revela que a Ip.TV está sendo utilizada por 7,7 milhões de alunos em SP, Paraná, Amazonas, Pará e Piauí e é acusada de ser ligada a políticos bolsonaristas. Os repórteres Amanda Audi e Pedro Zambarda afirmam que "em um dos apps, os alunos são expostos diretamente a mentiras e teorias da conspiração bolsonaristas" e que "os aplicativos têm problemas: apresentam defeitos de transmissão de som e imagem e não funcionam em celulares mais antigos. Mais grave, entregam à IP.TV, a empresa que os desenvolveu, uma série de dados pessoais de estudantes menores de idade e seus professores". No aplicativo Mano, de streaming dessa empresa, o principal canal é a TV Bolsonaro e está acessível a todos os alunos usuários do serviço.


Segundo a reportagem, "para usar os aplicativos, professores e estudantes são obrigados a concordar com as políticas de privacidade, que incluem o acesso da IP.TV a dados das secretarias de educação, com informações como nome, e-mail, ano e série cursados. Além do álbum de fotos, os apps também podem ter acesso ao microfone do celular e a trocas de mensagens em grupos de bate-papo, que podem ficar guardadas por até seis meses. O Mano ainda pode exibir publicidade aos usuários – apesar de a IP.TV garantir que isso nunca foi feito".

"Aprendizagem online não é o futuro", afirma professor de universidade da Califórnia

O provocativo artigo intitulado Online Learning Is Not the Future (link) merece a nossa atenção por alguns motivos. O mais importante é que o professor Peter Herman, da área de literatura inglesa, mostra opiniões de seus alunos (considerados por ele nativos digitais, e residentes da Califórnia) que, pela primeira vez, vivenciaram cerca de metade do curso presencial e, com a chegada da pandemia do Covid-19, a outra metade do curso online. Ou seja, eles puderam comparar o mesmo curso nas duas modalidades. Obviamente, a segunda metade se deu de forma emergencial e com todos os problemas gerados pela pandemia. Ainda assim, os depoimentos dos alunos precisam ser ouvidos, argumenta Herman.

O mais contundente deles afirmou: "Alguns dos melhores cursos que fiz durante meu tempo na faculdade foram em turmas pequenas, onde o professor e os alunos desenvolvem um senso de confiança um com o outro. Essa confiança só pode ser alcançada pelo contato pessoa a pessoa. Existe esse nível de intimidade que simplesmente não pode se desenvolver em um ambiente online. A experiência da faculdade é realmente sobre fazer conexões humanas" (tradução livre). 

Em geral, os alunos reclamaram que "não pago mensalidade para assistir vídeos no Youtube sozinho"-- uma forte crítica a conteúdos gravados sem atividades interativas -- e da ausência/distanciamento do professor e da falta de práticas dialogadas de aprendizagem (professor-aluno; aluno-aluno). Outros depoimentos:

  • "[O curso] parecia fácil demais", escreveu um terceiro. "Não me senti desafiado como na primeira metade do semestre e senti que a qualidade do aprendizado havia caído muito." 
  • "Vi as palestras postadas, mas não estava aprendendo o material", escreveu outro. Ao todo, a mudança on-line causou "um profundo sentimento de perda". 
  • Um vídeo pré-gravado “é de longe o menos eficiente e benéfico [modo de aprendizado]. Vídeos pré-gravados não dão aos alunos espaço para fazer perguntas ou participar de discussões em classe”.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Revista Distance Education publica número temático sobre práticas de educação aberta

A revista Distance Education (link) acaba de publicar número temático sobre educação aberta (open education) intitulado Avançando com as práticas de educação aberta. Os editores propõem que as open educational practices (OEP) - práticas educacionais abertas - sejam compreendidas "como um construto multidimensional e interdisciplinar que engloba uma gama diversificada de práticas abertas - incluindo aumento do acesso a oportunidades e materiais educacionais, abordagens abertas à aprendizagem, ensino, pedagogia e conhecimentos científicos, e uso educacional de dados e softwares abertos". 

E elaboram a problemática, no campo da pesquisa, ao argumentarem que: "no quadro conceitual do OEP, são práticas (em vez de, digamos, recursos ou cursos) que são descritas como abertas. No entanto, o que exatamente torna uma prática aberta ou fechada permanece uma questão em aberto; suas respostas são múltiplas e provisórias. A ênfase na abertura das práticas permite o uso da OEP como uma lente crítica através da qual se pode examinar exatamente o que, em um determinado caso, é aberto; para qual finalidade; e em benefício de quem (Havemann, 2020). Esses ângulos críticos são muito necessários para promover o debate acadêmico e, mais importante, as próprias práticas".

O número temático traz artigos que abordam a prática aberta inclusiva; a interseção entre justiça social, enriquecimento cultural e aprendizado ao longo da vida; a falta de diversidade epistêmica na OEP; as experiências dos alunos; as lições aprendidas com o uso de livros abertos, OEP na educação básica; o significado e a forma de colaboração na prática aberta e, por fim, a capacitação no e através do OEP.

Destaque para o artigo Affordances, challenges, and impact of open pedagogy: examining students’ voices, de Evrin Baran e Dan AlZoubi. O estudo relata resultados de relatórios reflexivos e entrevistas com 13 estudantes engajados em práticas de pedagogia aberta em torno dos temas de  curadoria de conteúdo, feedback de colegas, envolvimento da comunidade, desenvolvimento, reflexão e scaffolding (assistência ativa), e apresenta um modelo de pedagogia aberta em ação para debate e reflexão.

domingo, 7 de junho de 2020

Revista FAPESP publica reportagem sobre mudanças na EaD na pandemia

A revista Pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) acaba de publicar reportagem intitulada "Para além da sala de aula" de autoria do jornalista Bruno de Pierro. O texto possui abrangência internacional e aborda desafios, problemas e potenciais da educação a distância e as mudanças na educação escolar no contexto da pandemia do Covid-19. Acesso pelo link.

Além de depoimentos do coordenador do Grupo LER, da UFC, o artigo contou também com  a contribuição do renomado pesquisador canadense Stephen Downes (Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá) e de pesquisadores de destaque do Brasil, como Lucila Pesce (UNIFESP) e Klaus Schlünzen Junior (UNESP).

terça-feira, 2 de junho de 2020

Revista Horizontes, da SBC, publica série de artigos sobre educação online

A revista Horizontes, editada pela Sociedade Brasileira de Computação, inicia a publicação de uma série de artigos sobre a educação online a partir dos episódios deflagrados pela pandemia do Covid-19 no campo da educação não presencial. De autoria de Mariano Pimentel, doutor em Informática, e Felipe P. de Carvalho, doutorando em Educação, o artigo inicial da série é intitulado "Princípios da Educação Online: para sua aula não ficar massiva nem maçante!" (acesso no link). Como o título indica, os autores apresentam conceitos e práticas que caracterizam essa modalidade educacional através de 8 princípios detalhados no texto:

Princípio 1 – Conhecimento como “obra aberta” (em vez de “mensagem fechada”)

Princípio 2 – Curadoria de conteúdos + sínteses e roteiros de estudo (em vez da produção de conteúdos próprios para EAD)

Princípio 3 – Ambiências computacionais diversas (em vez de se restringir aos serviços do Ambiente de Aprendizagem)

Princípio 4 – Aprendizagem em rede, colaborativa (em vez de aprendizagem isolada)

Princípio 5 – Conversação entre todos, em interatividade (em vez de apresentação de conteúdos)

Princípio 6 – Atividades autorais inspiradas nas práticas da cibercultura (em vez de “estudo dirigido”)

Princípio 7 – Mediação docente online para colaboração (em vez de “tutoria reativa”)

Princípio 8 – Avaliação formativa e colaborativa, baseada em competências (em vez de apenas exames presenciais).

Agora os autores iniciaram o detalhamento desses 8 princípios em artigos específicos, aprofundando-os através de análise de perspectivas teóricas e de experiências práticas coletadas. O primeiro desse artigos intitula-se "Aprendizagem online é em rede, colaborativa: para o aluno não ficar estudando sozinho a distância" (acesso no link). Em breve, outros artigos detalhando princípios do artigo principal serão adicionados à coleção no website da Horizontes.