segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Novas IAs e o raciocínio crítico dos estudantes

Nos últimos dias empresas de tecnologia lançaram versões de seus produtos de inteligência artificial (IA) com avanços no que tem sido divulgado como uma nova e fascinante "capacidade de racionar". No caso do ChatGPT, há duas novas funcionalidades:  01-preview (mais geral para realizar tarefas ditas mais complexas, link) e 01-mini (para atividades no campo da matemática, link). Pesquisadores da área estão debatendo o que significa "raciocinar" neste caso, tendo como um dos parâmetros a nossa capacidade humana de fazê-lo, e implicações para a educação e o desenvolvimento intelecto-cognitivo dos estudantes. 

Em uma postagem em seu blog (link),  Donald Clark afirmou que "o pensamento crítico foi uma das famosas habilidades do século 21, que todos pensavam que a IA nunca poderia resolver. Se vemos o pensamento crítico como uma abordagem racional e crítica para resolver problemas, ele está aqui. Na verdade, o desempenho do ChatGPT o1 em matemática e raciocínio é extraordinário (...) este modelo está fazendo matemática fantasticamente avançada no nível da Olimpíada de Matemática e resolução de problemas em tarefas quantitativas". 

Outra notícia recente (link) demonstra que 66% dos estudantes universitários nos EUA utilizam o chatGPT semanalmente como parte de seus estudos, a princípio para buscar informações e para gerar brainstorming. Uma sondagem de opinião com alunos de uma turma de alunos meus de um curso de mídias e tecnologias indicou perfil semelhante: 48% utilizam serviços de IA uma vez por semana e 28% o fazem diariamente, principalmente para atividades de estudo e trabalho (muito pouco para fins sociais ou de entretenimento). Os estudantes formularam também diversas críticas à qualidade irregular e nem sempre confiável dos dados gerados e parecem ter consciência dos danos para a própria aprendizagem que poderão ser gerados pelo uso excessivo da IA em seus estudos.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Dossiê Temático Inteligência artificial sob as lentes do marxismo e do pensamento crítico

A Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação da Comunicação e da Cultura acaba de publicar dossiê temático intitulado Inteligência artificial sob as lentes do marxismo e do pensamento crítico (link para acesso).  O número especial traz artigos com temáticas sobre os avanços da inteligência artificial no contexto do fetichismo tecnológico, da perda dos postos de trabalho, da servidão do home office e da ideologia dos dados. Há também uma entrevista com a socióloga Sabine Pfeiffer sobre as contradições do capitalismo digital.

Segundo os editores (em tradução livre), "a pesquisa marxista sobre IA remonta à década de 1980 e à primeira era da indústria de IA. O aprendizado de máquina ainda não havia alcançado sucesso demonstrável e, em vez disso, a indústria baseou suas esperanças em "sistemas especialistas" ou programas nos quais o conhecimento capturado de especialistas poderia ser implementado e disponibilizado sob demanda (Myers 1986). A partir dessa era inicial, três grandes linhas de pesquisa marxista sobre IA já eram visíveis. 

A primeira linha viu na IA a extensão de tecnologias de automação anteriores e práticas tayloristas de desqualificação de mão de obra (Cooley 1980; Morris-Suzuki 1984; Berman 1992; Ramtin 1991). 

A segunda linha viu a IA como talvez mais exagero do que substância; como uma arma ideológica do capital para intimidar os trabalhadores. Como Athanasiou (1985) colocou, a IA era melhor entendida como "política habilmente disfarçada". 

A terceira linha se concentrou, em vez disso, no potencial das capacidades avançadas de processamento de dados da IA ​​para a implementação do planejamento econômico socialista (Cockshott 1988). 

Podemos ver esses mesmos temas em pesquisas marxistas mais recentes sobre IA, bem como em novas. O primeiro tópico continua sendo uma linha de pensamento proeminente. Dyer-Witheford et al. (2019) e Steinhoff (2021) oferecem estudos que investigam a IA como, principalmente, uma tecnologia de automação com novas capacidades para capturar as habilidades e o conhecimento do trabalho. 

O segundo tópico também mantém o interesse. Autores como Benanav (2020) e Smith (2020) argumentam que as capacidades da IA ​​para a substituição do trabalho são exageradas, servindo principalmente para distrair de uma economia capitalista estagnada. Terceiro, Cockshott (2017) continua a buscar o uso da IA ​​para o planejamento socialista. Um tanto relacionada é a pesquisa que defende o uso da IA ​​para produzir uma sociedade socialista “pós-trabalho” (Srnicek e Williams 2015; Bastani 2019). 

Além desses três tópicos, há uma diversidade relativamente pequena, mas crescente, de pesquisas marxistas sobre IA (várias coleções agora existem: Moore e Woodcock 2021; Fehrle, Lieber e Ramirez 2024)".

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

UNESCO publica guias de referências sobre Inteligência Artificial para professores e estudantes

A UNESCO acaba de publicar dois guias de referências sobre a temática da Inteligência Artificial no contexto de problemáticas e práticas de professores e estudantes (link para acesso). 

Segundo o material de divulgação,  o referencial de competências de IA para alunos visa orientar formuladores de políticas, educadores e desenvolvedores de currículo para que os alunos passam desenvolver habilidades, conhecimentos e valores necessários para se envolver com a IA de forma eficaz. Ele está focado em quatro competências essenciais: 

  • Uma mentalidade centrada no ser humano: Incentivar os alunos a entender e afirmar sua agência em relação à IA. 
  • Ética da IA: Ensino de uso responsável, ética desde a concepção e práticas seguras. 
  • Técnicas e aplicações de IA: Fornecer conhecimentos e habilidades fundamentais de IA. 
  • Design de sistemas de IA: Promovendo a resolução de problemas, a criatividade e o design thinking.

No que se refere aos professores, o material de divulgação destaca que o guia apresenta uma estrutura de competências de IA focada no desenvolvimento profissional ao longo da vida, oferecendo uma estrutura de referência para programas nacionais de desenvolvimento e treinamento de competências. O objetivo é garantir que os professores estejam preparados para usar a IA de forma responsável e eficaz, minimizando os riscos potenciais para os alunos e a sociedade. As cinco principais áreas de competência são: 

  • Uma mentalidade centrada no ser humano: Foco na agência humana, responsabilidade e responsabilidade social. 
  • Ética da IA: Promover princípios éticos e uso responsável. 
  • Fundamentos e aplicações de IA: Fornecer o conhecimento, a compreensão e as habilidades necessárias para criar e usar a IA. 
  • Pedagogia de IA: Apoiar os professores a alavancar a IA para métodos de ensino inovadores. 
  • IA para desenvolvimento profissional: Descrever as capacidades dos professores para alavancar a IA para impulsionar seu próprio desenvolvimento profissional ao longo da vida. 

O guia enfatiza que as ferramentas de IA devem complementar, não substituir, as funções e responsabilidades vitais dos professores na educação.

Destaque também para as diretrizes sobre IA generativa na educação e na pesquisa, documento publicado em 2023 (link).

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Novo livro de Lovink reflete sobre possível fim da internet

Foi lançada recentemente a edição em português do livro O fim da internet, do professor da Universidade de Amsterdam de Ciências Aplicadas, Geert Lovink (link). Há também um vídeo curto do autor sobre a obra (link). O livro inaugura a coleção Âncora do Futuro na temática de estudos críticos da internet da editora Funilaria em parceira com a equipe do @baixacultura. No livro, Lovink apresenta reflexões e diversas imagens sobre os problemas das plataformas (ou Big Techs) na atualidade e possíveis caminhos, em reflexão bastante inicial e por vezes pouco coesa, sobre as saídas para os problemas geradas aos usuários por essas empresas. 

O autor introduz questões importantes para reflexão, tais como: 

  • O que pode ocupar o vazio em nossos cérebros desfragmentados depois que a internet desocupar a cena? 
  • Em que pode consistir a vida depois que nossas mentes frágeis não forem mais atacadas pelos efeitos entorpecentes e deprimentes de descer a barra de rolagem do apocalipse (doomscrolling)?
  • Como viver uma vida fora da plataforma e ainda aproveitar os benefícios das redes sociais?

Lovink destaca também a urgente e ampla necessidade de regulação das plataformas para evitar tantos danos aos usuários, em particular as crianças e jovens. Destaque também para elementos de caráter menos tecnológico e mais político e econômico, como a importante discussão sobre decrescimento econômico e economia contributiva, solastalgia, dentre outros.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Estudo detalha o avanço da plataformização na educação superior da América Latina e da África

Relatório recente publicado pela equipe do projeto Observatório Educação Vigiada (link) apresenta indicadores que comprovam as crescentes ações das empresas Alphabet (Google) e Microsoft relacionadas às universidades públicas nos continentes da América Latina e da África. No que se refere ao nosso continente, a síntese dos resultados foi:

  • Foram pesquisadas 666 domínios de e-mail em 20 países;
  • Foram encontrados 646 domínios válidos de e-mail institucional;
  • 76% dos domínios válidos das Instituições Públicas de Ensino Superior da América Latina direcionam suas mensagens para servidores da Google e da Microsoft;
  • 58% dos domínios válidos estão armazenados na Google e 18% na Microsoft
  • Somente 24% dos domínios válidos estão armazenados em outros tipos de solução, majoritariamente servidores próprios e gerenciados pelas instituições.
  • Cuba é o único país da região com 100% dos servidores próprios, seguido por Uruguai, com 85%.

Os autores concluíram que: [...existe uma] " repetição das empresas que dominam a oferta de serviços: Microsoft e Google. Os dados brutos apontam para cenário díspar em diferentes países: com maior e menor domínio das Big Tech ou ainda a presença mais marcante de uma única empresa. Nesse sentido, e seguindo as experiências do mapeamento Sul-americano, os dados são uma fonte significativa de informações nos níveis nacional e institucional, abrindo espaços para investigações acerca dessas disparidades, considerando vetores e contextos políticos e econômicos locais". 

segunda-feira, 29 de julho de 2024

2024 EDUCAUSE Horizon Report Ensino e Aprendizagem

Foi publicado o 2024 EDUCAUSE Horizon Report Ensino e Aprendizagem no ensino superior (link) com destaques para os temas considerados mais importantes, e relacionados aos dois tópicos mencionados, para o futuro próximo, segundo os editores do relatório de grande prestígio acadêmico. O relatório deste ano incluiu também uma nova categoria (Honorary Trend) sobre Inteligência Artificial. O website do trabalho traz também vídeos e outros materiais úteis. Conforme resumo que consta na página 4 do relatório, as tendências mais importantes são (em tradução livre, destaques nossos):

Social • A percepção pública do valor do ensino superior está em declínio. • A demografia dos alunos está mudando. • Os alunos estão exigindo cada vez mais acesso ao aprendizado a qualquer hora, em qualquer lugar. 

Tecnológico • As preocupações com segurança cibernética e privacidade estão aumentando. • O uso de análise [automatizada] de aprendizagem continua a aumentar. • A exclusão digital persiste. 

Econômico • A demanda e o foco nas habilidades da força de trabalho estão crescendo. • Os desafios para a retenção de funcionários estão aumentando. 

Ambiental • As instituições de ensino superior estão aumentando seu compromisso com sustentabilidade. • Preocupações com o impacto das ferramentas de big data no ambiente estão aumentando. • A demanda por habilidades verdes na força de trabalho aumenta. 

Tendências honorárias de IA • A IA está mudando a maneira como nos comunicamos. • As ferramentas de IA têm um potencial crescente para remodelar a pedagogia e experiências estudantis. • A IA tem um impacto cada vez maior na economia e força de trabalho. • A IA está sendo cada vez mais usada para lidar com as mudanças climáticas e questões de sustentabilidade. • O potencial para o uso da IA na política está crescendo.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Relatório alerta para os perigos da adoção, sem regulação adequada, da Inteligência Artificial nas escolas

Acaba de ser publicado relatório crítico importante intitulado Time for a Pause: Without Effective Public Oversight, AI in Schools Will Do More Harm Than Good, de autoria de Ben Williamson, Alex Molnar, and Faith Boninger (link apra acesso do texto completo). No texto, os autores indicam as diversas qualidades das interfaces de IA generativa, mas alertam para a pressão mercadológica e para o modo aligeirado e pouco crítico com que empresas e setores dos poderes públicos tem promovido e praticado a introdução dessas tecnologias no contexto da escola formal: "O peso das evidências disponíveis sugere que a atual adoção generalizada de aplicações não regulamentadas de IA nas escolas representa um grave perigo para a sociedade civil democrática e para a liberdade e a liberdade individuais. Anos de alertas e precedentes realçaram os riscos colocados pela utilização generalizada de tecnologias digitais pré-IA na educação, que obscureceram a tomada de decisões e permitiram a exploração de dados dos alunos", alertam.

Os autores analisam que: "apesar dos riscos de levar tecnologia não testada às salas de aula e da falta de critérios de implementação ou controles regulatórios, as escolas enfrentam uma pressão implacável para “modernizar” adotando a inteligência artificial. Embora os aplicativos de IA sejam comercializados como formas de resolver problemas de ensino e aprendizagem e agilizar os processos administrativos escolares, eles carregam consigo todas as limitações, problemas e riscos inerentes aos modelos de IA utilizados para executá-los. Levar a IA às escolas aumenta a probabilidade de que essas tecnologias possam reproduzir ou intensificar muitos problemas, tornando qualquer benefício potencial menos significativo do que os danos potenciais.

Duas aplicações fortemente promovidas ilustram os perigos da adoção acrítica da IA em escolas: tutoria de chatbots, baseados em grandes modelos de linguagem, que prometem personalizar e automatizar o ensino; e plataformas de aprendizagem adaptativas, que utilizam grandes quantidades de dados dos alunos para fazer previsões, personalizar recursos e atividades em sala de aula e auto-intervir automaticamente nos processos pedagógicos. Os perigos que tais produtos representam incluem demandar aos professores mais tempo do que poupam, restringindo artificialmente a definição de “aprendizagem”, marginalizando a experiência dos professores e o relacionamento com os alunos, introduzindo erros curriculares e aumentando o preconceito e a discriminação nas salas de aula e nas escolas".

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Novo livro sobre como os computadores entraram nas escolas européias a partir da década de 1960

 

Foi publicado no ano passado obra de referência intitulada How Computers Entered the Classroom, 1960–2000 e que resgata importantes elementos sobre a introdução de computadores em escolas de alguns países da Europa, como França, Suécia e Alemanha (link para acesso ao download do livro).

Segundo os editores, "os estudos de caso destacam diferenças no poder político e econômico, bem como no raciocínio ideológico e nas prioridades estabelecidas por diferentes atores no processo de introdução de computadores na educação. No entanto, as contribuições também demonstram que narrativas simples da Guerra Fria não conseguem capturar as complexas dinâmicas e emaranhamentos na história dos computadores como tecnologia educacional e conteúdos curriculares nas escolas. O volume editado fornece, assim, uma compreensão histórica abrangente do papel da educação em uma sociedade digital emergente".

Um elemento comum identificado pelos autores foi o importante papel desenvolvido pelas associações e redes de docentes entusiastas dos diversos países na Europa, mas também nos EUA, em abrirem o mercado e criarem padrões e justificativas para o uso das tecnologias educacionais na educação e na formação de professores, o que muito facilitou o trabalho de marketing da indústria de computadores. Ao contrário do projeto inicial de que computadores permitiram a individualização da aprendizagem - e os ganhos daí advindos -  os autores argumentam que o motor principal da disseminação estava na crença de computadores como ativos econômicos no contexto da escola. 

Curiosamente, os autores também identificaram uma ruptura na trajetória de desenvolvimento dessa ações com a chegada e a popularização da internet na década de 1990, argumentando que as atividades passadas foram esquecidas em detrimento da urgente necessidade de conectar os computadores à rede digital. Alguns capítulos também analisam o papel das organizações UNESCO e OCDE nesse processo, mas também dos fornecedores locais que disputaram e conquistaram o novo mercado. 

O livro traz à tona também a lembrança de uma obra muito difundida na década de 1990 intitulada Oversold and underused: computers in classroom (link), em que o autor Larry Cuban fazia duras críticas aos altos investimentos na compra de computadores para escolas nos EUA sem um uso apropriado dos equipamentos e com resultados pífios para a melhoria das aulas e da aprendizagem escolar naquele país.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A vertiginosa ascensão e queda da plataforma indiana BYJU's

Artigo recente relata parte da história e sérios percalços recentes enfrentados pela plataforma educacional BYJU's (link para acessar o texto). A empresa, fundada em 2011 por, um casal de educadores indianos, apresentou crescimento espantoso mirando primeiramente o enorme mercado interno da India para treinamento em concursos de admissão semelhantes aos ENEM brasileiro. Posteriormente, ampliou conteúdos e cursos para todos os níveis escolares e ensino superior e para telefones celulares. 


A partir dai passou a construir uma atuação global que incluiu práticas predatórias em uma série milionária de aquisições de outras 17 edtechs na casa dos 300 e 400 milhões de dólares cada, totalizando investimentos de cerca de 5 bilhões de dólares. O agressivo crescimento incluía até a contratação do jogador Lionel Messi para garoto propagada. Planos muito ambiciosos que começaram a naufragar recentemente, quando a agressividade comercial da empresa começou a gerar desconfiança generalizada, o que incluiu a retirada de alguns investidores do Conselho Diretor da empresa e até a invasão da sede da empresa pelo Ministério de Assuntos Corporativos da Índia.  A empresa pode ter sua falência decretada nos EUA e enfrenta investigação criminal na Índia. Um enredo de filme que, de fato, já tem até proposta de nova minissérie para a plataforma Netflix...

Os autores do artigo concluem: "O BYJU's é um lembrete doloroso de que atalhos e farras de gastos não constroem negócios duradouros. A educação é um mercado enorme, mas a integridade ética e o foco no sucesso dos alunos devem continuar a ser princípios orientadores. Esperançosamente, as cinzas da BYJU serão usadas para instruir e fertilizar a próxima geração de líderes de edtech focados na criação de valor real, não apenas no hype".

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Nova análise sobre telefones celulares nas escolas

Estudo recente de pesquisadores britânicos (link para acesso) baseado em um nova análise dos dados do PISA de 2022 (que abrange quase 700 mil estudantes de 81 países) sugere que a proibição de telefones celulares nas escolas leva a um desempenho menor nas pontuações dos alunos nos testes do PISA.  Ao se referirem ao contexto específico do Reino Unido, os pesquisadores concluíram: "No lançamento dos dados do relatório [PISA] de 2022 no Reino Unido, a OCDE, embora um tanto equivocada, apresentou evidências a favor da proibição dos telemóveis, com base em dados de distração dos estudantes. Por outro lado, apresentamos uma conclusão curiosa e contraditória de que, quando o gênero, a classe social e o comportamento escolar são controlados, os alunos em escolas com proibição de telefone têm um desempenho inferior nas pontuações dos testes PISA do que aqueles em escolas que permitem a utilização do telefone".

Diante de tantas variáveis envolvidas no processo de aprendizagem escolar, o resultado não deveria causar tanta surpresa, pois a história das pesquisas sobre tecnologias digitais na escola tem demonstrado impactos de relevância bastante moderada -- seja positiva ou negativa -- nos resultados da aprendizagem dos alunos mensurada por testes padronizados. Mais importante é investigar e compreender o que significa, em termos sociais e políticos, a nova onda de proibição do uso de telefones nas escolas em países diversos, inclusive no Brasil, e que não tem relação direta com a tecnologia digital, mas sim com relações de poder de tom mais conservador e retrógrado, como reforço de disciplina na escola, etc.