quinta-feira, 30 de abril de 2020

Metodologias de aprendizagem ativa melhoram performance de estudantes de grupos minoritários

Está repercutindo nas redes e meios acadêmicos artigo publicado por grupo de pesquisadores da área de ciências biológicas na prestigiada revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (PNAS). Intitulado Active learning narrows achievement gaps for underrepresented students in undergraduate science, technology, engineering, and math,  o artigo apresenta resultados de revisão sistemática de 41 estudos que demonstrou que disciplinas e cursos centrados nas metodologias da aprendizagem ativa (em que os próprios alunos realizam atividades, diferente das aulas expositivas tradicionais) respondem:
  • por uma redução de 33% na diferença entre os valores das notas obtidas em avaliações formais de estudantes de minorias (negros, latinos, indígenas e de baixa renda) quando comparadas com estudantes tradicionais (brancos e de origem asiática); 
  • por uma redução de 45% nos índices de aprovação em disciplinas também na comparação entre estudantes de minorias e estudantes tradicionais. 

Os autores alertam, porém, para o fato de que reduções importantes das diferenças de notas e de aprovação entre os dois segmentos somente ocorrem quando o design de cursos com base na aprendizagem ativa se somam a:  1) uma prática comprometida com o avanço dessas minorias e 2) uma docência inclusiva, ou seja, quando o professor acredita que estudantes dessas minorias podem ser bem sucedidos. Isso terá impacto positivo inclusive para redução dos índices de evasão nos cursos dessas áreas. Os pesquisadores alertam: "...os professores pouco familizarizados com a aprendizagem ativa podem precisar iniciar seus esforços para redesenhar cursos com intervenções de baixa intensidade e com menor probabilidade de melhorar os resultados dos seus alunos de imediato. Nesse caso, o objetivo deve ser o de persistir, fazendo mudanças incrementais até que todos os instrutores estejam ensinando em uma estrutura de alta intensidade e baseada em evidências [da aprendizagem ativa], adaptada aos seus cursos e populações de estudantes".

Os autores concluem: "Nossos resultados apóiam propostas para substituir palestras tradicionais [aulas expositivas] por projetos de cursos de aprendizado ativo e baseados em evidências nas disciplinas STEM [das ciências exatas e biológicas] e sugerem que inovações em estratégias instrucionais podem aumentar a equidade no ensino superior".

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Novas pesquisas sobre educação on-line orientam práticas atuais

No contexto de iniciativas diversas em tempos de distanciamento social, resultados de pesquisas científicas devem guiar ações da educação on-line. A última edição do Computers & Education traz pelo menos dois estudos que podem contribuir para melhor avaliar propostas e iniciativas atuais. O artigo Online vs traditional homework: A systematic review on the benefits to students’ performance recomenda cautela em atividades totalmente do "dever de casa" com base em revisão sistemática sobre o tema. A pesquisa analisou 31 estudos já publicados sobre "dever de casa", realizados através de plataformas educacionais (como ambientes virtuais de aprendizagem) e de forma tradicional, por estudantes universitários das áreas de ciências exatas.  

Metade dos estudos analisados (15) não demonstraram ganhos de aprendizagem dos alunos ao realizarem o "dever de casa" on-line. Nove estudos demonstraram benefícios das tarefas on-line e seis deles apresentaram resultados mistos, não indicando benefícios claros de uma modalidade em comparação com a outra. Dessa forma, os autores consideram que um formato híbrido possa ser o mais benéfico aos estudantes.

O segundo artigo, intitulado Multimodal digital classroom assessments apresenta resultados positivos de práticas educativas na Noruega em que professores desenvolveram e aplicaram instrumentos de avaliação da aprendizagem multimodais (com elementos textuais e audiovisuais digitais, como a criação de um vídeo sobre conceitos da matemática) com seus alunos que oferecem alternativas viáveis aos tradicionais testes padronizados aplicados nas redes de ensino por terem sido considerados válidos.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Dificuldades dos professores universitários dos EUA e Canadá com a docência on-line na pandemia

O primeiro levantamento sobre o comportamento das ações on-line de professores universitários dos EUA (846 professores em 641 IES) e Canadá (20 professores) no contexto da pandemia do Covid-19 acaba se ser publicado e revela problemas e dificuldades enfrentadas por esses profissionais, a maioria sem experiência prévia com a docência não presencial. O dado mais preocupante aponta que a grande maioria dos professores transferiu suas aulas presenciais para algum sistema de vídeo-aula, dando a entender que o foco foi a transmissão de conteúdos pela internet sem um desenho didático e um contexto digital voltado a esse fim (ao contrário, professores com experiência on-line mais freqüentemente evitaram video-aulas e utilizaram AVAs). Além disso, a maioria dos professores sem experiência on-line admitiu que reduziu o nível de cobrança de suas disciplinas, bem como o número de atividades com nota. Essas práticas foram menos pronunciadas no caso daqueles professores que já possuíam algum conhecimento e experiência prática prévia com a docência on-line. Esse outro link traz informações mais detalhadas sobre o estudo. Conhecimentos considerados mais críticos e desejáveis para esses professores foram aquelas que se referiam às melhores maneiras de oferecer suporte aos alunos on-line e sobre como se tornarem bem sucedidos nesse contexto.



sexta-feira, 17 de abril de 2020

Sala de aula invertida tem resultados moderados para melhoria da aprendizagem discente

Artigo publicado na Education Research Review intitulado The Flipped Classroom: A Meta-Analysis of Effects on Student Performance across Disciplines and Education Levels realizou uma meta analise de 198 estudos sobre essa metodologia (e suas variações) e que envolveram quase 40 mil alunos da educação básica e superior em diversos países. Os resultados indicaram melhoria moderada da aprendizagem resultante da aplicação da metodologia da sala de aula invertida quando comparada com metodologias "tradicionais" da sala de aula, particularmente no ensino médio.

Em geral essa metodologia é desenvolvida através da introdução de conceitos aos estudantes para estudo antes da aula, via linguagem audiovisual ou de outro formato, seguida de atividades em pequenos grupos em sala e mais atividades relacionadas após a aula. A maior parte dos estudos analisados eram das disciplinas de matemática, medicina, ciências físicas e humanidades, tendo sido identificados os resultados mais positivos nesta última e os menos significativos na primeira.

Um elemento importante destacado pelos autores é que os eventuais ganhos de aprendizagem se devem aos componentes da metodologia de: atividades estruturadas; resolução de problemas; e -- o que me parece mais importante e louvável -- a autonomia e iniciativa dos alunos, esse um elemento complexo, desejável e nem sempre factível nas salas de aulas em contextos frágeis e desafiadores.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Reflexões críticas sobre o ensino e a aprendizagem remotas e a EaD em tempos do COVID-19

O site de notícias e análises Outras Palavras acaba de publicar artigo intitulado Vigilância em tempos de educação à distância, de autoria do pesquisador coordenador do Grupo LER/CNPq/UFC. O texto analisa problemas de acesso a dados e à privacidade e segurança dos usuários de ambientes educacionais e genéricos de empresas de tecnologia em rede no contexto do "capitalismo de plataforma". Esse artigo integra uma série de publicações sobre pesquisas desenvolvidas pelo Grupo LER/CNPq que tem apresentado análises críticas, baseadas em pesquisas sistemáticas, decorrentes do recente fenômeno do cancelamento das aulas presenciais em escolas e universidade e a busca por soluções com o uso de tecnologias digitais e internet. 

Se a crise abre bem-vindas oportunidades para experimentações e descobertas sobre as práticas de ensino e aprendizagem atuais, é preciso estar atento para os componentes comerciais e empresariais da problemática, bem como para os riscos de precarização das atividades acadêmicas e do trabalho docente, haja visto o frágil acesso das populações carentes aos bens tecnológicos em tempos de forte recessão econômica.

Além do artigo publicado pelo Outras Palavras, esses temas foram abordados também em artigo da revista Horizonte, publicada pela Sociedade Brasileira da Computação (SBC),  intitulado #FiqueEmCasa, mas se mantenha ensinando-aprendendo: algumas questões educacionais em tempos de pandemia. O texto, de autoria de Mariano Pimental e Renata Araújo, apresenta citação baseada em reflexões do LER sobre atividade escolar remota e educação a distância no contexto atual. 
E outro artigo, intitulado Atividade escolar remota não é EaD, foi publicado no Jornal O Povo. O texto inclui diferenças e alertas para os cuidados necessários ao serem desenvolvidas atividades acadêmicas remotas emergenciais e temporárias e propostas completas de cursos na modalidade EaD visando a excelência da aprendizagem.